O Prego
O martelo
passa o tempo todo
batendo no prego.
Um dia
o prego se cansa
e lança sua ponta afiada
na pança do martelo.
No nível mais concreto de percepção de sentido, podemos dizer que,
neste texto, há uma ação que se passa entre o martelo e o prego, tidos como seres
animados, em que o primeiro bate no segundo. Em seguida, o prego, cansado de ser
martelado, volta-se contra o martelo lançando-lhe sua ponta afiada na pança.
Já num nível um pouco mais abstrato, é possível perceber que o
martelar intermitente sobre o prego é uma ação abusiva de um sujeito sobre outro, que
poderia ser qualquer outra além dessa. Num determinado momento, há um julgamento
desta ação por parte do sujeito prego, e uma consequente retribuição, na forma de
sanção. Assim, o sujeito prego passa de uma posição ou estado de submissão a outro de
controle da situação, de um estado passivo para outro ativo e objetivo. Por outro lado, o
sujeito martelo sofre consequência por agir de maneira abusiva ou inadequada, saindo
de seu estado inicial ativo, de realizador da ação.
Num terceiro nível, ainda mais abstrato, podemos dizer que o texto é
construído sobre a oposição semântica /resignação/ vs. /revolta/, considerando
especialmente a trajetória do sujeito prego.
Esses três níveis, apresentados sucintamente acima, constituem o
percurso gerativo de sentido do texto. “O percurso gerativo de sentido é uma sucessão
de patamares, cada um dos quais suscetível de receber uma descrição adequada, que
mostra como se produz e se interpreta o sentido, num modelo que vai do mais simples
ao mais complexo” (FIORIN, 2009, p. 20). São três os patamares ou níveis do percurso:
o fundamental, o narrativo e o discursivo, respectivamente do mais abstrato para o mais
concreto. A cada um deles corresponde um componente sintáxico e um semântico.