Dessa forma, a música desempenha um dos aspectos sedutores nas duas
produções, pois os dois personagens femininos eram donos de uma bela voz, além de
os dois protagonistas também serem músicos. Portanto, o
temor dos homens
que a
viuvinha sentia justifica-se, de um lado, pelo mesmo medo que a condessa Elisa de
Técle tinha, e de outro, por ver no capitão Eugenio reflexos do personagem Luiz de
Camors. Além disso, quando o capitão lhe pede confiança, sua resposta transmite
talvez a imagem negativa que se tinha de um militar: “militar quer dizer volúvel”
(TAUNAY, 1878, p.209).
A partir desses dois romances franceses, podemos pensar no conceito de
intertextualidade como fundamental na análise dessa narrativa, já que há um diálogo
constante com outros textos, sem o qual a obra em questão não poderia ter sentido
pleno: “(...) todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e
transformação de um outro texto.” (KRISTEVA, 1974, p. 64).
Se observarmos a composição do cenário, assim como a situação em que estão
inseridos os personagens, é possível perceber um erotismo que não se explicita, mas
que se mantém sempre velado. Alguns elementos textuais comprovam tal afirmação,
como a interpretação que Eugenio afirma dar à música de Donizetti:
A coisa era em lá bemol e levava endereço direto à viuvinha.
Depois de uma sucessão de acordes que procuravam, com a possível discrição, saber se
a lembrança arraigada do defunto não permitiria nunca, nunca, a insinuação de um
sentimentozinho pequenino, pequenino como a unha rosada do dedo mínimo da fada
Titânia, pintei-lhe nas largas frases de um dueto em adágio, que pertencia a Donizetti e
à inspiração do momento, a felicidade da convivência de duas almas criadas para se
entenderem. Abusando do assunto e exprimindo as inquietações de um seio ávido de
amor, terminei num pianíssimo vaporoso. (TAUNAY, 1878, p. 206)
Concorrem também para o mesmo efeito erótico a adjetivação usada para
caracterizar a voz da viuvinha — “insinuante, cristalina e musical” (
id.
,
ibid.
, p.203) —
o modo como enceta a discussão sobre a crença em paixões repentinas (id., ibid.,
p.211) e a presença cúmplice da lua, que aparece com ênfase neste trecho: “E a noite
descera serena e fresca, desdobrando o cintilante e misterioso manto. Era noite de luar,
mas o argênteo astro não emergira ainda de esperançoso ambiente”. (
id.
,
ibid.
, p. 212)
É justamente sob esse “misterioso manto” que se passam os momentos mais
significativos da narrativa, o que ressalta a idéia do erotismo como algo velado. O
momento em que ele narra o fato de a lua ainda não ter aparecido no céu antecede o