— Por que tanta frieza? perguntou minha botina Meliés com timidez e fazendo um
lento movimento retrógrado. (...)
— Mas — replicou o Meliés com o fogo de que é capaz um couro curtido e engraxado
— se eu chegasse a ganhar um cantinho... do seu coração... seria... para toda... a vida!
— Não — balbuciou o sapatinho — tenho medo... dos homens... (...)
— Deixe-me... deixe-me em paz — implorou o acetinado e gentil calçado. (
id.
,
ibid.
,
p.208-209)
Assim, nesse diálogo metafórico, notamos que o sapato da viuvinha é sempre
tímido, carregado de um certo medo, o que leva o outro a perguntar o porquê de tanta
frieza. Em contrapartida, a botina representa o
fogo
sedutor do qual é revestido o
personagem Eugenio, que tenta de todas as maneiras seduzir a viuvinha.
Porém, o livro de Octave Feuillet estabelece uma relação ainda maior com a
narrativa do Visconde. Por ser o livro preferido da viuvinha, veremos que o seu enredo
está intimamente ligado à vida desse personagem. A obra conta a história do conde
Luiz de Camors, homem inteligente, incrédulo e calculista, o qual decide seguir os
conselhos que o pai lhe deixa em uma carta antes de se matar, ou seja, “Não tenhas
escrúpulos em usar das mulheres para conseguires o supremo gozo, dos homens para
conquistares o máximo poder, mas não faça coisa alguma que te fique mal.”; mas
deveria levar em consideração uma única palavra, a honra, “quer dizer o respeito e a
estima de nós mesmos”. (1894, p.18-19).
Assim, envolve-se com Julieta, a mulher do seu melhor amigo de infância,
Lescande, tratando-a com desdém após ter conseguido o que desejara. Depois de algum
tempo, ela morre completamente arrependida por haver traído seu marido tão dedicado.
Após esse acontecimento, quase concomitante à morte de seu pai, o conde decide partir
para o campo ao encontro de alguns de seus familiares, embora odiasse o interior e
considerasse que estes não lhe mereciam muito amor. Apesar disso, é nesse lugar que
se encanta por Carlota, uma prima órfã muito pobre, que se declara a ele, pedindo para
se tornar sua esposa. Ele a rejeita e diz que havia tomado a decisão de ficar solteiro
para o resto da vida.
Dessa forma, a jovem se casa com um homem velho muito rico, o marquês de
Campvallon, que a torna uma bela dama ornada com muitas jóias e riquezas. É esse
bom homem que dá algum dinheiro para o conde e o destina a uma região provinciana
da França, Reuilly, a fim de conquistar o nobre Des Rameures, homem muito influente,
que poderia ajudá-lo em seu propósito: o de tornar-se um político bem-sucedido. De