encontro onírico
de Eugenio e Adélia. Além disso, a lua é exaltada pelo narrador, que
mostra os efeitos de sua claridade no rio, ilustrando, assim, a sintonia perfeita com a
natureza: “Estava esplêndida a lua. Refletia-se num lado do rio, transmudando-o em
deslumbrante lâmina de prata, ao passo que mergulhava a outra margem em fantástica
escuridade” (TAUNAY, 1878, p.215)
Toda essa minuciosa insistência em torno da lua não é despropositada; pelo
contrário, ela parece interferir na ação das personagens, de modo a se poder atribuir a
ela a responsabilidade pelo movimento sedutor. Essa afirmação pode ser constatada no
trecho em que Eugenio se aproxima de Adélia, antes de eles se encontrarem. Na
realidade, a viuvinha
entra no jogo da lua
e acaba unindo-se ao capitão: “Quando
cheguei acima, ela não se mexeu: estava encostada à amurada a seguir com os olhos o
jogo do luar nas ondas que o vapor cavava.” (
id.
,
ibid.
, p.216)
É interessante salientar o papel mágico que a lua desempenha na ação para
também avaliarmos o caráter unilateral e surreal dos diálogos relatados por Eugenio.
Assim, vale tomar por exemplo uma afirmação de Roland Barthes para comprovar
como o erótico ainda se dá de maneira velada, sugestionada:
O erotismo é apenas uma fala, porque as práticas só podem ser codificadas se
conhecidas, isto é, faladas; ora, nossa sociedade jamais enuncia qualquer prática
erótica, apenas desejos, preâmbulos, contextos, sugestões, sublimações ambíguas, de
sorte que para nós o erotismo não pode ser definido a não ser por uma fala
perpetuamente alusiva (
Apud
DURIGAN, 1985, p. 84)
Além disso, o que nos faz comprovar o cuidado estético para com a linguagem é
o modo como se descrevem principalmente as paisagens, de maneira a estabelecer uma
voz poética: “Nas barrancas o arvoredo formava maciços compactos e sombrios, em
cujo meio cintilava um ou outro galho, iluminado caprichosamente por vivíssimo raio
de luz.” (TAUNAY, 1878, p. 215).
Essa voz é muito característica nas obras de Taunay. O conjunto poético
apresentado transmite-nos a visão da natureza sob uma nova perspectiva, talvez a de
alguém que prepara, através das paisagens, o ambiente para as ações das personagens.
Na realidade, a descrição poética do espaço em Taunay é muitas vezes um prenúncio
do que virá a seguir.
Isso acontece, por exemplo, no primeiro parágrafo do texto, quando o narrador
parece preparar o cenário da história a ser contada. A linguagem utilizada, como nas