a música que seria tocada pelo capitão. Esse mito grego desempenha aí o mesmo papel
que na mitologia pois lá, ao som de sua música, fazia as pedras rolarem.
Contudo, o mais significativo é o último ao qual o capitão faz menção, ou seja,
Morfeu, o deus grego dos sonhos. Aqui a referência é realizada no final do texto, diante
de uma dúvida apresentada pelo personagem: “Malvado Morfeu! (...) Mas... deveras,
devo amaldiçoá-lo?” (TAUNAY, 1878, p.219). De fato, essa hesitação surge porque
Eugenio sabia que, segundo a mitologia, essa divindade poderia assumir qualquer
forma humana e surgir nos sonhos das pessoas, de modo a representar a pessoa amada.
Assim, temos a explicação para o que havia acontecido com o protagonista, pois todo o
envolvimento com a viuvinha não passara de um
sonho dos deuses
.
Além dos mitos gregos, o narrador também alude a vários escritores da
Literatura Universal, como Goethe, Schiller, Corneille, Homero, Alexandre Dumas. No
entanto, a ênfase maior é dada a Octave Feuillet, autor do livro predileto da viuvinha -
O conde de Camors,
bem como a Balzac, autor da obra intitulada
Lírio do vale
.
Este livro é citado pelo próprio personagem ao responder a uma pergunta de
uma das mulheres que se aproximam dele, a
loira
, que gostaria de saber de Eugenio se
Balzac “é sempre verdadeiro quando pinta a paixão” (
id.
,
ibid.
, p.210). Embora o autor
predileto dela fosse Balzac, o narrador usa o exemplo do já referido livro
O lírio do
vale
para fundamentar a opinião de que esse escritor “muitas vezes falseia as situações
com patentes exageros”
(id.
,
ibid.
, p.210)
.
Trata-se da história de uma mulher casta, casada com um homem já de idade
avançada e um tanto doente, a qual consegue livrar-se de uma situação de adultério e
sedução por meio da morte. Esse fato nos permite remeter ao enredo da narrativa em
análise, já que o nosso protagonista, assim como o de Balzac, parece transgredir a
norma monogâmica imposta pelos códigos sociais e religiosos. Pela descrição que faz
ao apresentar a loira casada, ele se mostra de acordo com os mandamentos bíblicos,
principalmente no que diz respeito ao nono deles, que ensina que não se deve “cobiçar
a mulher do próximo”. Porém, um pouco adiante, ele mesmo parece transgredir o
mesmo preceito:
Casada e sem filhos; tinha [
a loura
] um modo de olhar todo seu e – sinceramente
perigoso para quem busca viajar por este imenso e inquieto mundo, sossegado com a
sua consciência e de acordo com o nono mandamento. (TAUNAY, 1878, p.200)