A partir desse ponto, o autor aproxima Lula de José Sarney, quando diz: “Eu
sempre desconfiei de que o real desejo de Lula fosse virar um José Sarney. Pronto: virou.
Lula e Lulinha são como Sarney e Sarneyzinho”.
Por meio do emprego do predicado nominal “virar um José Sarney”, tem-se esse
nome próprio, antecedido por determinante indefinido, como atributo. Como mais
comumente, a partir da abertura política no Brasil, esse nome está associado, em discursos
de políticos e da sociedade como um todo, à corrupção, o autor tenta recuperar o atributo de
corrupto, social, histórica e culturalmente construído a respeito de Sarney, para, assim,
caracterizar Lula.
Diante de casos como o apresentado, pode-se notar que o nome “José Sarney” não
é utilizado apenas para designar o ex-presidente e então senador da República, mas para
caracterizar Lula como possível corrupto ou aproveitador do poder.
Para compreender o nome “José Sarney” com esse atributo, é preciso conhecer
aspectos da história política do Brasil, com atenção voltada aos dizeres que circulam
socialmente a respeito dessa figura política, sempre relacionada a coronelismo e corrupção.
Por isso, faz-se necessário recuperar discursos políticos presentes na sociedade brasileira e
conhecer o tempo em que os fatos mencionados no texto ocorreram, pois o conhecimento
do contexto contribui para leitura crítica da relação de aproximação estabelecida entre Lula
e Sarney, naquele determinado tempo, pelo autor.
Na crônica “Fidel é brasileiro”, há também, por meio da predicação nominal, a
atribuição indireta de características a Lula a partir do emprego de nomes próprios, como
em destaque a seguir:
Lula é a expressão de algo bem mais familiar na política brasileira e de que nunca vamos
nos livrar. Ele é o ACM. É o Sarney. É o Jader Barbalho. É o Severino Cavalcanti.
(MAINARDI, 2008, p.126) [grifos nossos]