geral, voz de comando, nem poder de decisão em termos econômicos e financeiros. O
que caracteriza esta alta burguesia é inicialmente a solidez das suas fortunas.
Em um nível inferior, entre as classes superiores e as intermediárias, situa-se a
“boa burguesia”. As ocupações e fortuna desta classe fazem com que ela esteja mais
ligada a Paris do que a alta burguesia e a aristocracia financeira. A boa burguesia agrupa
duas categorias muito diferentes. Por um lado, compreende os parisienses ricos que por
vezes possuem fortunas tão elevadas quanto os representantes da alta burguesia, mas
não possuem as responsabilidades ou a influência necessária para se situar na categoria
superior. Ademais, é preciso que os proprietários dessas fortunas não exerçam uma
profissão que se assemelhe a uma atividade manual. Ao lado dos diretores de empresa,
uma parte importante da boa burguesia se recruta no seio das profissões que assumem as
responsabilidades necessárias ao avanço da sociedade burguesa: oficiais públicos e
outros representantes de profissões liberais, como médicos e advogados, com a
condição de que tenham uma clientela suficientemente numerosa e abastada, enfim, os
funcionários públicos, os magistrados e oficiais superiores sem grande fortuna – por
vezes até mesmo excluídos do corpo eleitoral, devido à mediocridade do seu patrimônio
-, mas que o prestígio de suas funções separa da média burguesia.
A média burguesia (termo preferível ao de classe média, normalmente empregado
pelos contemporâneos para designar o conjunto das classes burguesas) é a ligação mais
importante entre o povo e as classes superiores. É a este grupo que pertence grande
parte dos empregados do Estado, os representantes das profissões liberais e dos quadros
a serviço de empresas privadas. Embora as ambições individuais possam modificar este
esquema, grande parte dos representantes desta classe tem preocupações mais
parisienses e mais locais do que aquelas dos meios superiores. Nela está a burguesia
parisiense por excelência.
A burguesia popular, enfim, é uma pequena burguesia sem dinheiro e que beira a
fronteira com o proletariado. Ela se distingue do povo por suas funções: pequenos
comerciantes ou artesãos, por exemplo, que vivem de seu próprio lucro, o que os separa
de sua clientela, em grande parte operária.
Podemos classificar as personagens da peça
Le demi-monde
da seguinte maneira:
Raymond de Nanjac, militar condecorado, morador do Faubourg Saint-Germain, vinte
mil libras de renda, que pelo sobrenome (
de
Nanjac) e pelo fato de sua irmã residir no