Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 408

chega até o leitor/espectador, ou seja, ao co-enunciador, em primeiro lugar; são eles os
responsáveis pela definição de espaço (topografia) e tempo (cronografia) a partir dos
quais se desenvolve a enunciação.
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Esta imagem de si, construída para garantir o sucesso do empreendimento
oratório, é o que os filósofos antigos chamavam de
ethos
. Conforme mostra Amossy, na
introdução do livro
Imagens de si no discurso: a construção do ethos
, do qual é
organizadora, o
ethos
é a peça principal da máquina retórica e está fortemente ligado à
enunciação, sendo resgatado pela Análise do Discurso e pela Pragmática Moderna,
interessados na compreensão dos artifícios empregados pelos locutores para tornar o
discurso eficaz (Amossy 2008, p. 10).
A interação entre enunciador e co-enunciador se dá por meio da imagem que
fazem um do outro, como em um jogo de espelhos. É a imagem que o enunciador faz de
seu público, com as ideias e reações que dele espera, que irá guiar seu discurso. Na
outra ponta da cadeia de comunicação, o co-enunciador ou interlocutor também faz uma
imagem do enunciador, a partir do
ethos
projetado por este.
Ambas as imagens construídas (a imagem que o enunciador faz de seu co-
enunciador e vice-versa) são guiadas por um saber prévio, chamado de
ethos
prévio ou
pré-discursivo. Esta ideia prévia que se faz do enunciador está relacionada à
estereotipagem, ou seja, ao pensar o real por meio de uma representação social
preexistente, um esquema coletivo cristalizado (Amossy 2008, p. 125). Desta forma, o
enunciador frequentemente adapta sua apresentação de si às representações sociais que
ele crê interiorizadas e valorizadas por seu público alvo. Se tomarmos como premissa a
seguinte afirmativa de Maingueneau, “mesmo que o destinatário nada saiba antes do
ethos
do locutor, o simples fato de um texto estar ligado a um dado gênero do discurso
ou a um certo posicionamento ideológico induz expectativas no tocante ao
ethos
(MAINGUENEAU, 2006, p. 269), e adaptarmo-la ao teatro de Alexandre Dumas Filho,
faremos uma associação com o
Théâtre du Gymnase
e seu público: ao escolher este
teatro para a encenação da peça, palco por excelência do drama moral burguês, Dumas
Filho se posiciona no campo literário e explicita sua relação com seu público alvo. Da
mesma forma, ao eleger este teatro, o público já sabe o que esperar dele, já carrega suas
expectativas em relação ao
ethos
do locutor.
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Trata-se da própria definição de cenografia enunciativa (Maingueneau, 2001, p. 123).
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