Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 419

Olivier conta como cortejou uma mulher casada, Charlotte de Lornan, e depois de
conhecer o marido e tornar-se íntimo dele, desinteressou-se por ela e lhe escreveu
dizendo que queria ser apenas um amigo e que não queria vê-la em um caminho errado.
Conforme comenta com Richond, tinha esperança de “salvar sua honra”. Cabe notar
aqui não só o moralismo presente na fala, como também salientar que tais cortejos
ocorreram quando a senhora de Lornan visitava a mãe de um amigo de Olivier, no
campo. É mais um traço comum entre o estilo de vida burguês e o da nobreza: se esta
tinha terras e castelos no interior (
province
), possuir uma casa de campo nos arredores
da capital tornou-se, para muitos parisienses, o complemento obrigatório do domicílio
urbano e praticamente um atributo da vida burguesa.
Finalmente, Olivier menciona que seu romance com Suzanne dura seis meses e
que continuará pelo tempo que ela quiser. Richond corrige: “até que você se case”, e
Olivier retruca: “não me casarei jamais”. Ao que Richond responde: “Dizemos isso, e,
um belo dia...” (ato I, cena 3), mostrando como o
celibato tem pouco espaço nesta
sociedade
. O celibato era uma condição excepcional e temporária que recaía sobre uma
parte relativamente curta da vida ativa. O casamento, condição normal do burguês
parisiense, era um estabelecimento.
CONCLUSÃO
Enfatizamos aqui o papel das personagens, as quais identificamos como porta-
vozes do autor e que vimos como elementos principais da cenografia enunciativa da
peça. Reconhecemos nas personagens da peça
Le demi-monde
a autoridade de
enunciadores, que constroem uma imagem de si no momento em que tomam a palavra,
por vezes apresentando-se explicitamente, por vezes levando o co-enunciador a
construir esta imagem a partir de suas crenças implícitas no discurso. Tais crenças estão
relacionadas à respeitabilidade, às questões familiares, à situação da mulher na
sociedade e às questões financeiras e conjugais, que são alguns traços do
ethos
burguês
presentes no texto da peça.
REFERÊNCIAS
AMOSSY, Ruth (org.).
Imagens de si no discurso: a construção do ethos
. São Paulo,
Contexto, 2008.
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