exterioridade, estabelecendo a partir dela as fronteiras de si mesmo. Ao construir
─
e
reconstruir
─
seu discurso, o sujeito dialoga com o que lhe é, ao mesmo tempo, exterior e
constitutivo. Suas escolhas não são exclusivamente subjetivas, mas resultam do diálogo
com a coletividade, com aquilo que já está mais ou menos estabilizado no grupo ao qual
este sujeito pertence. À noção de sujeito dialógico não corresponde a ideia de indivíduo
psicofisicamente delimitado e carregado de subjetividade.
São, portanto, relevantes para a concretização dos enunciados ─ falados ou
escritos─ os sujeitos envolvidos na situação de enunciação, bem como as relações
dialógicas que os cercam: o momento histórico, a cultura e as relações ideológicas
estabelecidas entre eles. Tal multiplicidade de fatores, forças e circunstâncias interiores e
exteriores ao sujeito, e dele constitutivas ─marcas de heterogeneidade─ faz-se presente
tanto no processo de enunciação falada quanto no de enunciação escrita.
Assumindo-se a dialogia e a heterogeneidade como princípios da linguagem e,
portanto, da enunciação, torna-se contraditório buscar dissociar o processo de enunciação
falada do processo de enunciação escrita, considerando-os como modalidades de
enunciação autônomas entre si. Fala e escrita não são modalidades “puras” de enunciação,
elas se interpenetram no processo dialógico de constituição da linguagem. São práticas
sociais de linguagem indissociáveis entre si.
Conclui-se, então, que, tanto na escrita quanto na fala, é a relação entre sujeitos que
conduz o processo de enunciação. Segundo Corrêa (2004), por estar o escrevente sempre
em diálogo com o que lhe é exterior ─e, ao mesmo tempo, constitutivo─ é possível
resgatar, por meio da análise do material linguístico, indícios da relação entre o sujeito
escrevente e sua exterioridade. De acordo com o autor, há três eixos de representação a
serem considerados no modo de enunciação escrito, os quais constituem o que ele próprio
chamou de “o imaginário da escrita”.
No primeiro eixo desse imaginário proposto pelo autor, enquadram-se as
representações que o escrevente faz da própria escrita, daquilo que Corrêa denomina
“gênese da escrita”. Ao apropriar-se do código escrito, o escrevente constrói hipóteses de
escrita que muitas vezes se fundamentam na oralidade/fala, na reprodução gráfica da
matéria fonética e fonológica.
O segundo eixo corresponde à representação que o escrevente faz das práticas
escritas institucionalizadas nos diversos espaços sociais pelo qual ele circula. No