Por estar envolvida numa situação concreta de enunciação, a escrevente assume um
lugar discursivo. Ela é a aluna que está conversando pelo MSN com sua professora de
língua portuguesa. As convenções ortográficas até certo ponto podem ser deixadas de lado,
mas a relação entre os sujeitos emerge naturalmente no processo de enunciação. Mas na
sequência da conversa, o uso do pronome de tratamento denuncia a presença do outro: “a
senhora tbm”. Os sujeitos permanecem em seus lugares sociais, de professora e aluna, sem
que a escrevente se dê conta disso.
A breve análise apresentada procurou demonstrar que, conforme afirma Correa
(2004), a fixação de traços apenas situacionais ou apenas linguísticos não é suficiente para
tratar de todos os gêneros falados ou escritos. Linguístico e extralingüístico estão
presentes em qualquer enunciado. Alteridade e dialogismo são traços constitutivos de
qualquer processo de enunciação. Ao elaborar seu texto escrito, o escrevente circula por
um conjunto de representações que evidenciam a enunciação dividida tanto no que se
refere ao modo de emergência da própria escrita quanto no que se refere às representações
do interlocutor e do escrevente diante de si e do outro.
Referências Bibliográficas
AUTHIER-REVUZ, Jaqueline.
Entre a transparência e a opacidade: um estudo enunciativo
do sentido.
Porto Alegre: EDIPUC, 2004.
BAKHTIN, Mikhail. “Os gêneros do discurso”. In:
Estética da criação verbal
. 4.ed.
Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
CONCEIÇÃO, Ruth Izabel Simões. Tese de doutorado “O professor de Língua Portuguesa
na visão de formandos em Letras” (FFLCH\USP\2008).
CORRÊA, Manoel Luiz Gonçalves.
O modo heterogêneo de constituição da escrita
. São
Paulo: Martins Fontes, 2004.
KOMESU, Fabiana Cristina; TENANI, Luciani Ester. Eutomia, v. 01: 2010. p.2-15.
Disponível
em:
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destaques/destaques-linguistica/destaque_pratica_letramento.pdf>