Ao propor a mudança de registro ortográfico, o uso do internetês, a garota deixa
transparecer o jogo de representações que constituem seu dilema de escrevente. A escrita
que emerge do imaginário do escrevente sujeito de práticas de escrita na internet voltadas
para comunicação interpessoal, principalmente, em se tratando de chats e MSN, é marcada
pela multimodalidade, pela abreviação, por enunciados curtos, frases entrecortadas, uso
mínimo de pontuação e acentuação. Marcas lingüísticas que o senso comum ─ incluindo-
se aí a instituição escolar e, portanto, a professora de língua portuguesa─ costuma
desaprovar, advertindo o escrevente do perigo que essa escrita oferece aos “bons usos” da
língua.
A escrevente, então, busca claramente uma negociação com seu interlocutor
representado. Ela propõe que se abandone a formalidade e que se adote uma linguagem
coloquial. Para isso, usa a norma padrão em perfeita concordância com a primeira pessoa
do plural: “estamos no MSN”. Destaca-se também o uso da vírgula logo após o vocativo:
“professora,”. A escrevente demonstra, ainda, ter noções de adequação das práticas escritas
à situação de enunciação ─ o que, provavelmente, aprendeu na escola. Entretanto, por estar
envolvida numa situação concreta de enunciação, não basta apenas substituir a escrita
convencional pela não convencional, adotando-se uma linguagem “coloquial”.
professora, fala a LINGUAGEM
coloquial
não FORMAL...
estamos no MSN
Então...
o que seria o coloquial para você?
Tipo...
usar internetês?
tipo : sim
kkk
Ok. Se vc prefere assim...
aham
Ok. Continuo por aki. Vou ler algumas coisas..
sim
eu vo falar com a senhora tbm