sujeito como elemento essencial. Com ela, a semiótica incorpora a enunciação,
projetando no discurso as marcas de pessoa, tempo e espaço.
A enunciação é compreendida por duas vertentes: comunicação e produção. Na
primeira, a enunciação é entendida por meio da relação do fazer-persuasivo de um
produtor que visa a agir sobre um receptor, encarregado, por seu turno, do fazer-
interpretativo. Essa primeira abordagem da enunciação é típica dos estudos da Retórica.
Em relação à produção, enunciação é um ato que põe em funcionamento a língua,
produzindo um enunciado. É impossível estudá-la diretamente, porquanto é uma
instância linguística pressuposta pelo enunciado. Mas como seu produto, o enunciado
pode conter traços que reconstituem o ato enunciativo. Esse mecanismo, que consiste
em projetar no discurso as marcas de pessoa, tempo e espaço, é conhecido por
debreagem, subdivida em dois tipos.
A primeira é a debreagem enunciativa (Fiorin 1996), que instala no enunciado as
pessoas da enunciação (eu/tu), o espaço da enunciação (aqui) e o tempo da enunciação
(agora), produzindo o efeito de sentido da subjetividade. A segunda é a debreagem
enunciva, responsável pela instalação das pessoas do enunciado (ele), do espaço do
enunciado (lá ou alhures) e do tempo do enunciado (então), criando o efeito de sentido
da objetividade.
Abaixo, os integrantes da enunciação, dispostos em níveis (Fiorin 1996):
1º nível
enunciador versus enunciatário
2º nível
narrador versus narratário
3º nível
interlocutor versus interlocutário
Sabe-se que, em todo processo de comunicação, a um “eu” corresponde sempre
um “tu”. Por isso, diante do enunciador está o enunciatário; do narrador, o narratário; do
interlocutor, o interlocutário.
O enunciador é uma imagem construída ao longo do texto, uma idealização do
ser que produziu o discurso corrente. Traçando um paralelo com a Retórica clássica,
cujo princípio preconiza, num ato de comunicação, o envolvimento de três componentes
(orador, auditório e discurso), o enunciador seria, aproximando-o das tradições
aristotélicas, o
ethos
do orador, a voz que ecoa numa construção discursiva.