grupetos irônicos — porventura essa reminiscência anacrônica, importuna,
impertinente, devia aniquilar tudo, mocidade, inteligência, beleza, fogo, esperanças de
futuro, fé no porvir, alegria e felicidade? (TAUNAY, 1878
,
p.207)
Aqui, quando ele utiliza a palavra “grupeto” refere-se a um grupo de notas (três
ou quatro) que antecedem a nota real. E, no conjunto, a duração desse grupeto deve ser
a mesma da nota de origem. Esse é o mesmo efeito que ele parece atingir com a
intercalação dos adjetivos: “marido enterrado há anos, pasto de vermes, eco morto,
esvaído”, como se
corresse
nesse momento da descrição para voltar ao “porventura” já
anunciado, tanto que ele retoma essa palavra. O mais interessante é perceber a relação
que ele tenta fazer entre a teoria musical e a escrita, pois deseja produzir o mesmo
efeito.
Também vale destacar as imagens metafóricas exploradas nas descrições. Esse
movimento é constante na narrativa, e por isso selecionamos as mais significativas
delas. A primeira se dá no momento em que o capitão inicia sua apresentação musical,
pois afirma: “preludiei em surdina, como um pássaro que experimenta e afina a
laringe.” (
id.
,
ibid.
, p.206).
Mais adiante, refere-se a um fato histórico para medir a distância que tivera de
transpor para encontrar sua amada no sonho: “Dizer que corri para ela fora fazer da
realidade um sonho, pois, não sendo o convés unido, entre a proa e a popa abria-se larga
solução de continuidade que talvez nem o pulo aéreo de Blondin pudera transpor”.(
id.
,
ibid.
, p.215). Trata-se do acrobata francês Charles Blondin, que atravessou as cataratas
do Niágara, nos Estados Unidos da América, servindo-se de uma corda suspensa sobre
as quedas de água.
Ainda se refere ao pulsar do seu coração, quando vai ao encontro de Adélia no
sonho, como “malho a bater em bigorna” (
id.
,
ibid.
,
p.216), pois tinha a impressão de
que seu “impressível músculo” queria saltar do seu peito. Por fim, afirma que o olhar
apaixonado da viuvinha, que parecia perder-se no dele, estremecendo “como tocada de
centelha elétrica”. (
id.
,
ibid.
, p.217).
Conclusão
Diante do que foi exposto ao longo deste trabalho, percebemos de que maneira a
intertextualidade constitui um processo fundamental na construção desta narrativa do
