indiretamente), experiência que o habilita a extrair as circunstâncias conflituosas
vividas pelas personagens, frente aos vários dilemas morais com que elas se deparam.
Porém, é preciso lembrar que a Guerra do Paraguai só é mencionada no início
da narrativa em análise. Daí podermos afirmar que “Um Dia de Paixão” difere muito
das outras: o cenário não é um ambiente bélico, e os personagens masculinos, ainda
que pertençam ao Exército, não estão diretamente envolvidos com a Guerra.
“Um Dia de Paixão” diz respeito a uma história, como revela o próprio título,
que acontece em vinte e quatro horas. Em uma viagem de barco, o capitão Eugenio,
homem sedutor e um tanto seguro de si, conhece um grupo de mulheres. Apesar de ter
ficado admirado com todas, uma delas, a viuvinha Adélia, desperta-lhe uma atenção
especial.
Procura, então, aproximar-se dela por meio da música, já que toca piano, como
também por meio de frases soltas e envolventes. Dessa maneira, é criado um clima
envolvente na história, o que leva o capitão a apaixonar-se por Adélia e esta, conforme
pode se observar no discurso do narrador, também parece estar envolvida. O fato de ela
ter parado de cantar desde a morte do marido sugere uma ausência momentânea de
predisposição para uma relação amorosa, o que parece desafiar o seu admirador.
Eugenio toca até as 11 horas da noite, quando as mulheres vão se deitar, despedindo-se
do capitão-pianista, que também vai dormir. Em seu beliche, sente um enorme cansaço,
além de desesperar-se por ver acabar um "romance tão bem encetado".
E nesse estado em que se encontra o narrador-protagonista é possível
compreender o que lhe acontece logo em seguida. Ele tem um contato mais íntimo com
Adélia e, arrependidos da ousadia de tal atitude, ambos se lançam ao rio. Porém, ele
acorda, procura averiguar os fatos e descobre que as mulheres já tinham ido embora, o
que o leva a atestar que tudo não passara de um sonho.
Em meio a esses fatos narrados, pode-se constatar várias referências —
intertextuais, mitológicas e musicais — que podem ser objeto de um estudo sobre a
função sugestiva que desempenham na narrativa. A esse respeito, apontamos, para
efeito de ilustração, a referência a uma das fábulas de Lessing alusiva à brevidade dos
fatos, a qual discorre sobre a vida de "efêmeros bichinhos" (TAUNAY, 1878, p. 199).
