Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 792

Em acordo com essa lição, encontramos, no manual do candidato FUVEST/2006, entre
os conteúdos a serem dominados, a seguinte recomendação a respeito da “Organização
do texto”: “Dissertação: fato e demonstração / argumento e inferência / relações lógicas;
Narração: sequenciação de eventos / temporalidade; Descrição: simultaneidade /
espacialidade na ordenação dos elementos descritores” (p. 42). No entanto, ao analisar
um
corpus
composto por 50 textos dissertativos produzidos como redação para o
vestibular FUVEST/2006 sobre o tema
Trabalho
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,
Soster (2009) notou que a distinção
mencionada acima, aparentemente tão objetiva e isenta de questionamentos, não se
sustenta. Para tanto, Soster observou que
sequências narrativas
(Adam, 2008)
participam da organização textual das redações de maneira mais ou menos padronizada
do ponto de vista das temporalidades, o que o levou a concluir que algo parece falhar no
tocante à distinção tradicional entre textos narrativos e dissertativos.
Tendo isso em vista, procuramos aqui reler os resultados obtidos por Soster
(2009) por meio da aproximação feita por Corrêa (2010a; 2011) entre as noções de
aspectos “ocultos” do letramento acadêmico
(Street, 2009) e de
presumido social
(Voloshinov/Bakhtin, 1926:s/d). A ideia é observar os chamados
aspectos “ocultos”
não propriamente como ocultos, mas como índices de um
presumido social
que
participa tanto da construção do sentido do enunciado quanto da construção dos
gêneros
do discurso.
Eis, portanto, uma justificativa para a manutenção das aspas usadas por
Street (2009) ao mencionar os
aspectos “ocultos”.
Esses aspectos
ora são cobrados na
avaliação da aprendizagem, sem que sejam, porém, explicitados no processo de ensino;
ora são apontados como erro no produto escrito do aluno, embora possam estar
explícitos no próprio intercâmbio verbal professor/aluno.
Antes de passarmos a considerações teóricas mais detalhadas, cabe fazer uma
observação a respeito da relação entre o que consideramos “gênero do discurso” e “tipo
de texto”. Ainda que entendamos os textos de nosso
corpus
como pertencentes ao
“gênero redação de vestibular”, não podemos ignorar a já larga tradição de toda uma
esfera de atividades pedagógicas que trabalha com a noção de “tipo de texto” e mais
especificamente em nosso caso, com o “tipo de texto dissertação em prosa” (Manual do
candidato, 2005). É por esse motivo que trataremos a solicitação da FUVEST aos
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Conferir proposta no link:
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