Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 784

adquire na obra de Bakhtin e seu Círculo, Souza (2002, p. 81) aponta três dimensões para se pensar
as relações dialógicas:
omicro-diálogo: o diálogo interior
o diálogo no sentido estrito: o diálogo exterior realizado numa determinada situação
o diálogo no sentido largo, ou seja, o grande diálogo: o diálogo infinito emque não há nem
a primeira nema última palavra.
Avida do enunciado concreto se encontra realizada nessas três dimensões de diálogo.
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Isso vale para as produções verbais, mas não somente elas: todas as formas de produção
simbólica, como a pintura, a música, a arquitetura ou a comunicação midiática (campo que aqui
interessa particularmente) são perpassadas pelo fenômeno dialógico e se constituem a partir de
enunciados concretos elaborados a cada instante, infinitamente. E esse produzir perpétuo de
enunciados e sentidos se efetiva por meio da interação verbal entre os sujeitos do discurso.
Averdadeira substância da língua não é constituída por umsistema abstrato de formas lingüísticas, nem
pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo
fenômeno social da
interação verbal
, realizada através da
enunciação
ou das
enunciações
.Ainteração
verbal constitui assima realidade fundamental da língua. (BAKHTIN, 1995, p. 123; grifos do autor)
Interação verbal e os papéis dos sujeitos da interlocução
A interação verbal é expressão e comunicação, mas é, principalmente, resposta
entre enunciados e entre os sujeitos que os tecem. É na interação verbal que se dá o
incessante fluxo de afirmações, contraposições, comentários, refutações e antecipações
dentro da esfera social. A enunciação constitui-se, então, como produto da interação
entre indivíduos sociais e adquire uma natureza totalmente sócio-histórica, que atua na
conformação do enunciado. Este, por sua vez, é a materialização da linguagem e a
realidade de qualquer forma de comunicação.
Aintersubjetividade, portanto, é essencial na constituição dos discursos e seu sentido. Daí o
papel de destaque ocupado pelas discussões sobre a alteridade nos estudos sob o prisma dialógico e,
nesse sentido, as interlocuções interativas, em especial o diálogo interpessoal (considerado por
Bakhtin a forma mais explícita, mais visível, da alternância dos sujeitos), aparecem como situações
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Quanto à abordagem possível que o pesquisador pode fazer a partir dessas três dimensões, Souza
aponta:. “a) a primeira [micro-diálogo] não é acessível ao pesquisador, embora ele saiba de sua
existência concreta por experiência própria. Sendo assim, ela só pode ser observada em sua
representação literária no diálogo do herói com ele mesmo. b) a segunda compreende o diálogo de
duas ou mais pessoas onde a resposta é, em geral, imediata, existe alternância de sujeitos. Nesse caso,
o pesquisador é o terceiro, cujo olhar exterior consegue perceber a relação eu/outro efetivada no
diálogo. c) a terceira corresponde a dimensão de resposta não imediata, onde as relações dialógicas
entre os enunciados concretos, vivos, constrói o fenômeno, estudado exaustivamente pelo Círculo, do
discurso de outrem ― do enunciado de outrem ― que adentra a estrutura do enunciado, isto é, o
interior do meu discurso”. (SOUZA, 2002, p. 82-3).
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