Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 782

Nesta compreensão, reforça-se a idéia de criação conjunta, em que o receptor
‘passivo’ torna-se “co-autor, co-criador, verdadeiro conceptor” (SILVA, 2000, p. 12).
Pelas abordagens de alguns estudiosos trazidos para essa discussão, percebe-se que os
sentidos para interatividade estendem-se da idéia de reversibilidade e atuação conjunta, no que
alguns classificam como ‘bidirecionalidade’, até a conformação de uma dinâmica integrada entre os
participantes do processo comunicacional, levando autores como Marco Silva a falarem em co-
criação. Ainda que os pesquisadores trazidos para esta discussão assentem suas abordagens em
parâmetros teóricos diferentes daqueles em que se baseia esta pesquisa, é possível perceber que boa
parte de sua compreensão sobre o fenômeno tangencia a que norteia este artigo.
Estão aí o entendimento da comunicação como uma lógica integrada e de interação (e não
apenas de distribuição) e a recusa à dicotomia atitude ativa—atitude passiva. Estes são pontos de
vista essenciais para se entender a interatividade na perspectiva em que se coloca a discussão aqui
proposta, que é a de considerar a comunicação discursiva, nas suas mais diversas manifestações,
inclusive a comunicação radiofônica, como lugar de diálogo e interação entre sujeitos. A
comunicação interativa no rádio não escapa a esse domínio, que tem como fundamento a
perspectiva dialógica da linguagem, da qual a interação verbal entre os sujeitos do discurso é
subsidiária.
Dialogismo como fundamento da linguagem
Todas as esferas da atividade humana estão relacionadas com o uso dos diferentes sistemas
de linguageme a multiformidade social se reflete no emprego dessas variadas maneiras de o homem
apreender, vivenciar e significar o mundo em que se situa e age. Os sistemas sígnicos só têm
existência concreta quando os sujeitos, conhecedores das suas formas de articulação, os utilizam na
vida real, combinando-os na tarefa de comunicar os sentidos para os fatos da realidade histórico-
social. Essa comunicação, por sua vez, só se efetiva por meio do fenômeno social da interação
discursiva entre os sujeitos, a partir do material simbólico ininterruptamente produzido. Tal
compreensão sobre o funcionamento concreto da linguagem na comunicação discursiva permeia
toda a obra do teórico russo Mikhail Bakhtin
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, onde o dialogismo surge como princípio fundador e
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Embora aqui tomemos a obra de Bakhtin como parâmetro da abordagem, ressaltamos que boa parte
das noções aqui apresentadas resultam de discussões travadas pelo teórico russo e colegas de seu
Círculo, entre eles Valentin N. Voloshinov e Pavel N. Medvedev, sendo que a autoria de algumas obras
atualmente é creditada a mais de um autor, como
Marxismo e filosofia da linguagem
, de Bakhtin
(Voloshinov) (1995).
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