De qualquer modo, Eco parece atingir seu suposto objetivo de criar uma
autobiografia disfarçada, tornando a história de Yambo a sua história e demonstrando
que as memórias são múltiplas e formadoras da história pessoal, que por sua vez estão
sempre amarradas a uma história social.
De acordo com Lenita Rodrigues “o que se pode dizer é que Eco consegue
levantar a discussão entre a História e a Literatura, com maestria, porque ele realizou o
que pode ser o desejo de quem ama as duas áreas do conhecimento; ele tocou em ambas
e deixou um caminho”. Esta autora acredita que
A misteriosa chama da Rainha Loana
é um exemplo de que a vida não se separa da ficção e de que a História, em seu caso,
vista por um especialista em semiótica, pode ser contada de várias formas, algumas
mais agradáveis que outras, porém, todas pertinentes.
Pelos motivos até aqui expostos, julgamos pertinente aprofundarmo-nos numa
análise detalhada do romance em questão, para identificar e analisar os recursos
intertextuais e interdiscursivos usados pelo autor para a sua construção, a fim de
desvelar seu processo criativo e verificar de que forma o uso desse procedimento resulta
em um texto literário capaz de resgatar a memória da literatura e a do próprio autor da
obra.
Referências
BAKHTIN, Mikhail.
Estética da criação verbal.
São Paulo, Martins Fontes, 1992.
BEDARIDA, Catherine.
Umberto Eco rememora a vida sob o fascismo
. Trad. Jean-
Yves de Neufville. (Matéria originalmente publicada por Le Monde/Uol, 19 de março
de
2005).
Disponível
em:
<
.
Acesso
em
07/01/2011.
COMPAGNON, Antoine.
O trabalho da citação
. Trad. Cleonice P. B. Mourão. Belo
Horizonte, UFMG, 1996.
ECO, Umberto.
A misteriosa chama da Rainha Loana
: romance ilustrado
.
Trad. Eliana
Aguiar. Rio de Janeiro, Record, 2005.
___.
Pós-escrito a O nome da rosa
. Trad. Letizia Zini e Álvaro Lorencini. Rio de
Janeiro, Nova Fronteira, 1985.
JENNY, Laurent et al.
Intertextualidades
. Coimbra, Livraria Almedina, 1979.
