Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 769

que concorre para a tessitura de um novo texto, marcando assim, a construção de sua
própria originalidade, se inscreve na genealogia de entrelaçamentos e filiações que ao
longo da história permitiu à literatura nutrir-se de si mesma, de sua história. Ainda
segundo Magri (2010):
De maneira clara e na sua representação mais simples, a intertextualidade se define
como a ideia de que tudo se apóia, seja na escrita ou na arte, conscientemente ou não,
no simples fato de que nenhum texto pode ser escrito de forma independente, uma vez
que já foram registradas em nossa memória mensagens de (e) textos anteriores emitidos
por outros autores, o que equivale a dizer que, quando rascunhamos algumas linhas, as
palavras nelas grafadas já estão inelutavelmente impregnadas pelo pensamento de um
texto qualquer que nos precedeu e que, inconscientemente - ou não, em algum momento
do passado alimentou nosso conhecimento.
Desde a publicação de seu primeiro romance,
O nome da rosa
, em 1980, Eco
demonstrou ser um mestre na arte de costurar retalhos intertextuais, para dar vida a
novas tessituras. A respeito dessa relação dialógica que acontece quando um autor
resolve criar uma nova obra a partir de uma outra obra anterior, o próprio Eco já
observou, vinte anos antes de publicar
A misteriosa chama da rainha Loana,
que
“enquanto a obra está sendo feita, o diálogo é duplo. Há diálogo entre o texto e todos os
outros textos escritos antes (só se fazem livros sobre outros livros e em torno de outros
livros)”. (ECO, 1985, p. 40).
Embora Eco assuma que não é o inventor dessa ideia (id., ibid.), ele parece tê-
la utilizado sempre que planejou escrever um novo livro, recapitulando-se, fazendo um
repasse geral dos tantos livros que leu, de suas experiências amadurecidas, dos
convencimentos que teve, dos conhecimentos acumulados e das descobertas efetuadas.
Para a criação de
A misteriosa chama da rainha Loana
, Eco resolve mais uma
vez usar o recurso que ele mesmo denominou “máscara” (ECO, 1985, p. 19) e
novamente utiliza um protagonista, Yambo, e outros personagens para (re) viver suas
memórias. Eco retoma nesse romance de 2005 a mesma estratégia usada em relação aos
personagens de
O nome da rosa
(1980):
Eles falariam por mim e eu ficava livre de suspeitas. Livre de suspeitas, mas não dos
ecos da intertextualidade. Redescobri assim aquilo que os escritores sempre souberam
(e tantas vezes disseram): os livros falam sempre de outros livros e toda a história conta
uma história já contada. (ECO 1985, p. 20)
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