Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 783

o caráter eminentemente dialógico da comunicação discursiva, de toda e qualquer manifestação de
linguagem, da organização dos discursos e da sua significação, é ratificado.
Odialogismo bakhtiniano temdois princípios básicos:
a) a alteridade, ou seja, a relação ativa necessária entre o ‘um’ e o ‘outro’, sejam estes os
sujeitos do discurso (por ele denominados, em algumas obras, “sujeito falante” e “sujeito ouvinte”
ou “destinatário”), seja um discurso em relação aos demais que o cercam e a partir dos quais se
posiciona;
b) a interação verbal
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como espaço em que as relações de alteridade se realizam e a partir
do qual os sentidos dos enunciados são construídos. Ainteração se dá entre os sujeitos do discurso e
entre os enunciados, entre as diferentes manifestações simbólicas.
O princípio dialógico da comunicação discursiva insere os sujeitos num movimento de
mútuo pertencimento: o ‘um’ só existe a partir da sua relação com o ‘outro’, com aquilo que lhe é
exterior; ambos se determinam reciprocamente. Na perspectiva dialógica, nenhum princípio é
isolado, nenhuma concepção é única ou estática, nem é resultado de “geração espontânea”; as
diferentes visões e formas de atuação complementam-se, divergem entre si, amalgamam-se e se
recriamnum incessantemovimento de recíproca influência e constituição.
Nessa perspectiva, a palavra-chave passa a ser ‘diálogo’ e o termo adquire diversos matizes
que, embora a englobem, estendem-se para além da idéia comum de diálogo, qual seja, de
interlocução entre duas pessoas numa situação dada.
Por diálogo deve-se entender também a
articulação entre um discurso e os demais que o atravessam e constituem. E mais: o processo
ininterrupto de reciprocidade entre discursos que configuram uma cultura, uma sociedade e que
marca a natureza interdiscursiva das construções de linguagem.
O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão uma das formas, é verdade que das
mais importantes, da interação verbal. Mas pode-se compreender a palavra “diálogo” num sentido
amplo, isto é, não apenas como a comunicação emvoz alta, de pessoas colocadas face a face, mas toda
comunicação verbal, de qualquer tipo que seja. (BAKHTIN, 1995, p. 123)
Como uma forma de sistematizar essa múltipla significação que o conceito de “diálogo”
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Bakhtin utiliza a expressão “interação verbal” certamente porque suas preocupações estavam voltadas
em especial para o funcionamento da linguagem verbal nas suas diversas manifestações,
principalmente o romance e outras produções literárias. Consideramos, porém, que tal princípio seja
extensivo a toda manifestação de linguagem, utilize ela códigos como o visual, o gestual, o musical, o
sonoro etc. A mesma observação pode ser estendida à expressão “realidade extraverbal” e outras da
mesma estirpe pois, embora originalmente o autor as tenha empregado para se referir ao seu objeto
privilegiado de estudo (a língua e seus diversos usos concretos), seus postulados dizem respeito a toda
a comunicação discursiva dialógica, não importando de que materialidade ela esteja constituída.
Tendo essa ressalva em vista, optamos por manter a terminologia conforme empregada pelo teórico
russo.
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