Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 781

usuário/destinatário teria total autonomia. (Machado, 1990, p.71
apud
Primo, 1998)
Tomando esse entendimento, uma relação reativa não seria interativa. De fato, a primeira se caracteriza
por uma forte roteirização e programação fechada que prende a relação emestreitos corredores, onde as
portas sempre levam a caminhos já determinados
a priori
.Arelação reativa seria, pois, por demasiado
determinística, de pouca liberdade criativa. (Primo, 1998)
E é justamente tendo em vista o componente
criativo
da relação entre os sujeitos
participantes do ato comunicativo na produção da mensagem que Primo, citando Raymond
Williams (1969,
apud
Primo, 1998)
13
, afirma que a verdadeira interatividade deveria pressupor a
resposta autônoma, criativa e não prevista da audiência, o que colocaria ‘emissor’ e ‘receptor’ não
como pólos separados e em total desequilíbrio de forças, mas como “agentes intercomunicadores”,
entre os quais se estabeleceria um diálogo real e irrestrito e não apenas “uma pequena gama de
possibilidades reativas planejadas
a priori
” (Primo, 1998)
Por sua vez, Fragoso (2001) afirma que a interatividade está identificada normalmente com
“a viabilização de níveis mais diretos de ação sobre o desenvolvimento das mensagens por parte dos
receptores das mídias tradicionais e com realizações estritamente digitais como o desenho de
interfaces e a hipermídia”, reconhecendo a presença do fenômeno tanto nos meios digitais quanto
nos eletrônicos, como o rádio e a televisão tradicionais.
Por fim, Marco Silva afirma que a interatividade representa uma “mudança paradigmática”
na comunicação como tradicionalmente tem sido pensada, representa uma alteração do esquema
clássico e reconhece o “caráter múltiplo, complexo, sensorial e participativo do receptor, o que
implica conceber a informação como manipulável, como ‘intervenção permanente sobre os dados’”
(SILVA, 2000, p. 115). O autor afirma que, na situação de interatividade, a mensagem se apresenta
como “conteúdos manipuláveis” e não mais como emissão. Nesse sentido, ele reforça as afirmações
deMarieMarchand
14
:
O emissor não emite mais no sentido que se entende habitualmente. Ele não propõe mais uma
mensagem fechada, ao contrário, oferece um leque de possibilidades, que ele coloca no mesmo nível,
conferindo a elas um mesmo valor e um mesmo estatuto. O receptor não está mais em posição de
recepção clássica. Amensagem só toma todo o seu significado sob a sua intervenção. Ele se torna de
certa maneira criador. Enfim, a mensagem que agora pode ser recomposta, reorganizada, modificada
em permanência sob o impacto cruzado das intervenções do receptor e dos ditames do sistema, perde
seu estatuto de mensagem ‘emitida’.Assim, parece claramente que o esquema clássico da informação
que se baseava numa ligação unilateral emissor-mensagem-receptor se acha mal colocado emsituação
de interatividade. Em outros termos, quando, dissimulado atrás do sistema, o emissor dá a vez ao
receptor a fim de que este intervenha no conteúdo da mensagem para deformá-lo, deslocá-lo, nós nos
encontramos em uma situação de comunicação nova que os conceitos clássicos não permitem mais
descrever demaneira pertinente. (MARCHAND, 1987, p. 9,
apud
SILVA, 2000, p.114)
13
Cf. WILLIAMS, R.
Cultura e sociedade.
São Paulo: Paz e Terra, 1962.
14
Cf. MARCHAND, Marie..
Les paradis informationels
: du Minitel aux services de communication du
futur. Paris: Masson, 1987.
1...,771,772,773,774,775,776,777,778,779,780 782,783,784,785,786,787,788,789,790,791,...1290
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