Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 801

tentar compor um texto supostamente mais informativo e crítico, pode inserir
sequência(s) narrativa(s)
como em:
“Na Grécia Antiga, o trabalho não era visto como atividade dignificante [...] A Idade
Média modificou a realidade escravista [...] Com o nascimento do Capitalismo,
entretanto, surgiu a idéia de trocar o trabalho humano por moeda [...] O esforço
humano, então, passou a ser remunerado. E é por essa chance de remuneração que os
homens do século XX e XXI se acostumaram a lutar [...]”.
Como se pode ver, o valor crítico buscado limita-se, em geral, a essa relação de
causalidade, que passa ao largo, porém, das contradições que também definem a história
e cuja explicitação talvez produzisse, de forma mais consciente, a abordagem crítica
pretendida. De qualquer modo, este fator demanda do candidato uma forte capacidade
de associação entre a história oficial e a história pessoal, pressupondo, sempre, uma
leitura subjetiva.
Essa contradição quanto à ausência recomendada e a presença imperiosa da
subjetividade (via
sequências narrativas
) constitui, por conseguinte, forte indício de
mais um
aspecto “oculto” do letramento acadêmico
, um
presumido do gênero do
discurso
que impõe centralidade na produção do sentido, mas lhe recusa visibilidade.
Considerações finais
A fim de concluirmos, gostaríamos, então, de destacar duas faces desses
aspectos “ocultos”. A primeira diz respeito a formas consideradas adequadas que são
silenciadas (são tomadas como
presumidos
), mas que são cobradas no produto final. No
caso exposto, ainda que as instruções para produção de textos sejam, geralmente,
bastante esquemáticas, não se espera que um texto dissertativo seja quase ou
completamente desprovido de
sequências narrativas
. No entanto, o professor, sem
prévia explicitação disso, pode apontar na produção do aluno essa falta como uma
deficiência de seu texto. Já a segunda face envolve o que será considerado como erro
no produto final, mas que já está presente nas próprias recomendações do professor. A
recorrência das mencionadas
sequências
, no produto final, indica que há um
presumido
social
e que ele afeta, em primeiro lugar, as próprias recomendações do professor e, a
partir delas, podem voltar a aparecer como “problema” no texto do aluno.
Os textos analisados apresentam, portanto, fortes indícios de que os padrões de
produção escrita defendidos pela escola para as dissertações ora não são explicitados,
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