Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 808

Inocentes) lançado em 1964, encontrou espaço privilegiado para uma campanha de
alerta contra os possíveis malefícios dos quadrinhos à educação dos adolescentes. Como
ressalta Cirne (1972) as discussões geradas pelo psiquiatra levaram a uma visão
pejorativa dos quadrinhos que passaram a ser considerados uma das causas da
delinquência juvenil. Assim, surgiram códigos de ética em vários países inclusive o
Brasil, que impunham normas para a produção das histórias em quadrinhos.
Um dos primeiros estudos sobre quadrinhos no meio acadêmico brasileiro
ocorreu no final da década de 1960 e foi realizado por José Marques de Melo (jornalista,
professor e pesquisador), que sofreu resistência na universidade sendo acusado
clandestinamente de pesquisar o “lixo” cultural (MELO, 2005). O relato descreve a
visão da comunidade científica sobre as pesquisas em histórias em quadrinhos na época
sendo um objeto de estudo desqualificado. Vergueiro (2005) explica que os intelectuais
da época não consideravam os quadrinhos dignos de atenção e afirmavam que as
histórias em quadrinhos não pertenciam ao meio acadêmico.
O despertar para os quadrinhos surgiu nas últimas décadas do século XX no
ambiente cultural europeu e depois em outras regiões do mundo que foram entendendo
que as críticas feitas eram sustentadas em preconceitos, o que favoreceu a sua
aproximação das práticas pedagógicas. Na década de 1990, as pesquisas sobre histórias
em quadrinhos começaram a ganhar força no Brasil e foram motivadas por diversas
razões, como por exemplo, sua introdução nas propostas pedagógicas dos Parâmetros
Curriculares Nacionais e inserção em materiais didáticos, provas de vestibular e exames
nacionais. Assim, o assunto começou a repercutir nas universidades e, nos últimos anos,
cresceu a quantidade de produções sobre os quadrinhos na sala de aula.
As tiras da Mafalda é diferente daquele tipo de quadrinho em que os autores
narram uma história que enaltecem um herói que sempre aparece para salvar as pessoas.
“Mafalda não é uma heroína. É uma anti-heroína. Não aparece para salvar as pessoas,
aparece para criticar comportamentos e situações e pôr a sociedade em questionamento”
(ECO, 1993, p. XVI). O autor se refere à Mafalda como uma personagem contestadora e
enraivecida que segue a moda do anticonformismo e recusa o mundo como ele é,
ressaltando ser prudente tratá-la com o respeito que merece uma personagem real. E
ainda relata que não se pode negar que as histórias em quadrinhos, quando atingem
certo nível de qualidade, assumam a função de questionadoras de costume e a Mafalda
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