Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 814

intertexto visual por conter tanto o veículo dos militares quanto as palavras da Mafalda
em chamá-lo de vidro de vitaminas. Assim, como na tira anterior, é possível que o texto
(verbal e visual) ao qual a tira se refere pudesse ser recuperado no jornal em que a tira
foi publicada, porém vários outros textos sobre a ditadura foram produzidos nesse
período e a partir do nosso conhecimento prévio desses textos é que podemos fazer as
relações necessárias.
A próxima tira de Lavado (1993, p. 175) envolve a mesma temática que as tiras
anteriores a partir da intertextualidade implícita:
A tira mostra Mafalda caminhando pela calçada observando homens trabalhando
na rua. Eles estão consertando o asfalto, por isso utilizam uma britadeira, uma marreta e
um socador, cujo som é imitado utilizando as onomatopeias. A força para “bater” na rua
é tamanha que vemos a poeira subir, a movimentação repetitiva dos trabalhadores pelos
riscos acima e abaixo dos braços e as onomatopeias aparecem escritas de maneira bem
grande. Depois de observar de forma angustiada esta cena, Mafalda pergunta aos
trabalhadores com certa ironia o que eles estão querendo que a pobre rua confesse. É
feita uma alusão às pessoas que eram torturadas, e pode ser tanto na ditadura quanto
durante as guerras ou outros acontecimentos existentes nesse período. Os objetos e as
ações dos trabalhadores podem ser considerados um intertexto visual implícito à
violência com que as pessoas eram torturadas, apanhavam e, para isso, muitas vezes os
torturadores utilizavam de objetos para fazer a tortura. Este intertexto visual foi
complementado pelo intertexto verbal presente na fala da Mafalda quando se reportou à
confissão da rua. Aqui, ocorre como nas tiras anteriores em que no jornal no qual a tira
foi publicada poderia ter textos verbais e visuais que auxiliassem o leitor a compreender
as relações intertextuais. Porém, como ressalta Romualdo (2000, p.63), “quando o
intertexto não aparece no jornal, o leitor já deve ter, em seu repertório ou memória
cultural, o conhecimento necessário para a compreensão da intertextualidade”.
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