Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1234

permaneçam impressos em nossos discursos, direcionando nossas formas de fazer e ver
o mundo.
Se para Freud (1996 [1905) a transferência é uma postura estereotípica, uma
forma singular de se colocar e estar no mundo, podemos pensar que este fenômeno
também está presente no ato de ler e compreender um texto: a compreensão de uma
obra está relacionada diretamente à personalidade de quem lê. Não obstante, não se trata
de desconsiderar o objetivo do escritor: num diálogo, o leitor subverte o sentido do
texto, transformando-o a partir de sua subjetividade. O conceito de transferência,
implícito em todas as ações da vida, inclusive na leitura, é uma forma específica do
sujeito de se relacionar com o mundo. Devemos
(...) compreender que cada indivíduo, através da ação combinada de sua
disposição inata e das influências sofridas durantes os primeiros anos,
conseguiu um método específico próprio de conduzir-se na vida erótica – isto
é, nas precondições para enamorar-se que estabelece, nos instintos que
satisfaz e nos objetivos que determina a si mesmo no decurso daquela
(FREUD, 1996 [1905], p.112).
Promover o envolvimento entre pessoas ocultas (leitor e autor) parece fornecer
oportunidades de se colocarem genuinamente, trazendo à tona, mesmo que de forma
implícita, experiências de vida que influenciam suas interpretações do mundo. Freud
(1996 [1893]) poderia considerar tais expressões como formas possíveis de liberar
emoções e afetos reprimidos, impedindo o recalcamento de sentimentos. Segundo ele,
conteúdos recalcados advêm de situações em que o sujeito se absteve de um processo
catártico, como viria a ser a verbalização de tais sentimentos vividos través da
experiência da escrita e da interpretação da leitura.
Baseando-nos na teoria de Freud (1996 [1915], p.230), de que a projeção
pressupõe a “externalização de um processo interno” que o sujeito projeta em algo por
estar reprimido dentro de si, cremos que ler e escrever histórias, é também ter a história
enquanto objeto possível de projeção de conteúdos inconscientes.
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