Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1239

Assim, o uso da linguagem possibilita ao homem a capacidade de produzir
efeitos de sentido, posicionar-se e atuar sobre a realidade em que vive, construindo e
produzindo conhecimentos. É, pois, a linguagem que oferece ao homem a possibilidade
de adquirir consciência, tornando-se capaz de pensar, de saber que sabe e, portanto, de
agir sobre o meio, estabelecendo sua identidade pessoal e social.
Em se tratando da linguagem verbal, é importante ressaltar que o uso de uma ou
outra palavra deriva de escolhas que o locutor faz no léxico da língua, no processo real
de suas interações. Ou seja, as palavras não são usadas aleatoriamente, mas, sobretudo,
refletem intenções, no jogo que se estabelece durante esse processo de interlocução,
realizado por sujeitos determinados cultural e socialmente. Sob esse prisma, também, é
importante observar que a linguagem não é neutra, nenhum discurso, por mais simples
que possa parecer, é imparcial, de modo que constatamos cotidianamente que realmente
a função referencial denotativa da linguagem é somente uma de suas funções, como
bem já explicitaram vários autores, dentre os quais destacamos Gnerre (1998).
Então, partindo da concepção da linguagem como lugar de ação e ancorados no fato
de que, conforme afirma Breton (1999), “argumentar é raciocinar, propor uma opinião
aos outros dando-lhes boas razões para aderir a ela”, e de que os argumentos vem
explicitados por palavras, que são escolhidas de modo a alcançar os objetivos
pretendidos, propomo-nos a fazer uma breve análise de alguns elementos linguísticos,
mecanismos argumentativos em um capítulo do livro
A língua de Eulália, novela
sociolinguística
, de Marcos Bagno (
Quem ri do quê?
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). Pretendemos mostrar que esses
elementos argumentativos, essas pequenas palavras que, numa visão ingênua da língua,
são de menor importância, na verdade, acabam por ditar as nuanças do texto na
construção dos sentidos.
Subsídios para a análise: Concepção de linguagem e operadores argumentativos
No presente trabalho, ressaltamos, partimos do princípio de que a
linguagem é lugar
de ação, ou seja, da concepção dialógica da linguagem, em que locutor, interlocutor e
situação discursiva são elementos igualmente importantes e que, enquanto dialógica,
atua como estruturadora da realidade e se (re)constrói no processo.
Diante do fato de que a função primordial da linguagem não é a de meramente
transmitir informações, necessário se faz considerar que na própria estrutura do discurso
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Texto anexo.
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