Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1245

De acordo com Ducrot (
apud
Koch, 2000), o uso do operador argumentativo
MAS (operador argumentativo por excelência) consiste na introdução de um argumento
possível para uma determinado conclusão e, na seqüência, a inserção de um argumento
decisivo para a conclusão contrária a sugerida anteriormente.
Instaurado o clima de preconceito linguístico, Irene irá tentar, por meio de uma
sequência de argumentos sólidos, reverter a situação, provando às meninas que a fala de
Eulália não é errada, é diferente. Enfim, fazendo-as compartilhar de sua opinião.
O primeiro argumento de Irene vem em forma de versos da
Divina Comédia
, de
Dante: “_
Or tu chi se’, che vuoi sedere a scranna / Per giudicar da lungi mille miglia,/
Com la veduta corta d’ una spanna?”
(BAGNO, 2001, p. 14)
A esse primeiro argumento, seguem-se outros introduzidos pelo operador
argumentativo “
e
”, que juntamente com “
também, ainda
,
nem (= e não), não só, mas
também, tanto...como, além de..., além disso, a par de
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.
.., etc. fazem parte de uma
mesma classe argumentativa e somam argumentos a favor de uma mesma conclusão”
(KOCH, 2000, p.33):
_
E
então? Não querem rir
também
do que eu disse, como riram das coisas que a
Eulália falou?
_Se era italiano, por que devíamos rir? Eu não posso achar graça naquilo que não
entendo _ diz Emília.
_
E
por que você não entende? _ pergunta Irene.
_ Ora, porque não falo italiano _ responde Emília.
_
E
o que é que você fala? _ continua Irene.
_ Eu falo português _ diz Emília, já intrigada.
_
E
o que é o italiano para alguém que fala português? _ quer saber Irene.
As moças param um instante para pensar. É Silvia quem responde:
_ É outra língua.
_ Uma língua diferente _ completa Vera.
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(BAGNO, 2001, p.14)
Dando prosseguimento aos seus argumentos, Irene diz: “
No mundo non me sei
parelha, mentre me for’ como me vay, ca já moiro por vos _ e ay!”?
(...) “Estou-me nas
tintas se não te apetece uma bola de Berlim”? (BAGNO, 2001, p. 14-15)
As jovens estudantes não conseguem atribuir um significado para as falas de
Irene. Diante disso, ela explica e reitera com o mecanismo argumentativo
, que aponta
para a afirmação da totalidade de tudo o que dissera antes: “_ A fala da Eulália não é
errada: é diferente. É o português de uma classe social diferente da nossa,
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isso_
explica Irene.” (BAGNO, 2001, p.15)
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Grifos nossos
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Grifos nossos
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Grifos nossos
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