Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1242

professoras do curso primário para discutir questões referentes à linguagem,
evidenciando a existência de uma pluralidade de normas lingüísticas dentro do universo
da língua portuguesa. Mais do que isso, Irene acaba criando um apoio para que as
meninas passem a encarar de uma nova maneira as variedades não-padrão da língua
portuguesa.
Apreciações sobre o texto
Podemos afirmar, de antemão, que se trata de um texto coerente e coeso, pois
obedece aos elementos que segundo Charolles (1978
apud
Val) são essenciais à
caracterização do texto:
continuidade
,
progressão
,
não-contradição
e
articulação
.
O texto, como o próprio título sugere, “
A língua de Eulália: novela
sociolingüística
”, é uma narrativa construída, em sua maior parte, por discurso direto.
Assim, o autor recorre sobremaneira aos verbos chamados “de elocução”
(característicos dessa modalidade textual), ou seja, verbos que servem para indicar a
personagem a quem pertence a fala. Por outro lado, não há grandes interferências do
narrador no decorrer da narrativa, ficando este responsável apenas pela contextualização
das falas, como bem ilustra o fragmento abaixo:
E o que tem isso a ver com a fala errada da Eulália? –
pergunta
Emília.
_ A fala de Eulália não é errada: é diferente. É o português de uma classe social
diferente da nossa, só isso –
explica
Irene.
3
(BAGNO, 2001, p. 15)
Com relação à continuidade, ou seja, “a retomada de elementos no decorrer do
discurso”, Val (1999, p. 21), notamos que a temática, preconceito linguístico e seu
desmascaramento através de argumentos sólidos e científicos, é mantida em todo o
texto. Isso pode ser comprovado pela seqüência narrativa abaixo:
(...) – a Eulália é um poço sem fundo de conhecimento e sabedoria. Todo dia aprendo
uma coisa nova com ela.
(...) – Pode até ser – comenta Emília (...) – Mas ela fala tudo errado. Isso para mim
estraga qualquer sabedoria.
(...) Sílvia ri e Emília a imita.
(...) – Or tu chi se’, che vuoi sedere a scranna / Per giudicar da lungi mille miglia,/
Com la veduta corta d’ una spanna?
(...) – E então? Não querem rir também do que eu disse, como riram das coisas que a
Eulália falou?
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Grifos nossos
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