Para tal, ressaltamos que partimos da premissa de que a argumentatividade é inerente
à linguagem, isto é, sempre que falamos ou escrevemos algo, expressamos nosso ponto
de vista e tentamos fazer com que o nosso interlocutor compartilhe da nossa opinião.
Desta forma, o autor orienta a fala de seus personagens utilizando-se de mecanismos
que indicam a orientação argumentativa de seu texto.
Iniciaremos, então, com elementos que mostram a escala argumentativa das ideias,
ou seja, como já explicitamos anteriormente, uma escala argumentativa é constituída de
um conjunto de enunciados que podem igualmente servir de argumento para uma
mesma conclusão.
Assim temos, logo no início, a apresentação do tema: “o preconceito linguístico”.
Ilustremos a proposição do tema com uma sequência dialógica entre as personagens:
_ Para dizer a verdade_ prossegue Irene, a Eulália é um poço sem fundo de
conhecimento e sabedoria. Todo dia aprendo uma coisa nova com ela.(...)
_ Pode
até
ser _ comenta Emília (...) _
Mas
ela fala tudo errado. Isso para mim estraga
qualquer sabedoria.
_ Eu tive de me segurar para não rir quando ela disse aquelas coisas na mesa _
acrescenta Sílvia.
_ Que coisa? _ quer saber Vera.
_ Ah, sei lá... agora não me lembro _ responde Sílvia.
_ Eu me lembro _ adianta-se Emília. _Ela disse “os pobrema”, “os fósfro”, “môio
ingrês”...
_ É mesmo _ confirma Sílvia _, e a mais engraçada foi: “percurá os hôme”...
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(BAGNO, 2001, p. 13-14)
Atentemos para o fato de que diante da fala de Irene, elogiando Eulália, Emília
faz um comentário que muda o rumo da conversa e coloca em evidência o tema sobre o
qual circundam as demais idéias. Nesse comentário, Emília lança mão de dois fortes
operadores argumentativos: o “
até
” e o
“mas
”.
Esses operadores assinalam uma tomada de posição por parte da personagem.
Primeiramente, ao introduzir o operador argumentativo
“até”
, ela conduz seu discurso
no sentido de vir a admitir a possibilidade de Eulália ser uma sábia: “_Pode
até
ser” (...)
Logo em seguida, por meio do
“mas”
, ela dá a tacada decisiva, ou seja, introduz
um argumento que (a seu ver) é decisivo para desconsiderar a sapiência de Eulália: “_
Mas ela fala tudo errado
.
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Isso para mim estraga qualquer sabedoria”. (
BAGNO, 2001,
p. 14)
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Grifos nossos
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Grifos nossos
