Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1229

Vygotsky (2005) acredita que a palavra, enquanto instrumento social para a
comunicação, tem o poder de constituir subjetividade nos sujeitos, ou seja, ser parte
essencial desta, ou ainda, dar existência a subjetividade. Para o autor supracitado, há,
em toda palavra, uma multiplicidade de sentidos que se deriva de processos históricos,
construídos coletivo e individualmente. Em sua concepção, essa construção não é algo
automático, depende dos investimentos intelectuais dos sujeitos envolvidos, que
construirão juntos os significados das palavras em seu cotidiano, dando existência a
suas subjetividades, em uma infinita instabilidade tanto dos sentidos das palavras
quanto da própria forma de se ver o mundo.
Sendo assim, entendemos que, a palavra e seus significados, para atender à
necessidade humana, são tão flexíveis quanto à própria subjetividade: cada sujeito
compreenderá a palavra a partir de sua relação com o mundo, pois as possibilidades de
compreensão são infinitas. Por conseguinte, podemos pensar que, apesar de sua pretensa
objetividade, a palavra não existe sem o sujeito que a lê e interpreta, tornado-a
essencialmente subjetiva e interpretativa.
Concordando com isso, Jobim e Souza (2008, p.21) diz:
É na linguagem, e por meio dela, que construímos a leitura da vida e da
nossa própria história. Com a linguagem somos capazes de imprimir
sentidos que, por serem provisórios, refletem a essencial transitoriedade da
própria vida e de nossa existência histórica. Ao mesmo tempo, a linguagem
também transmite aquilo que permanece no mundo como fato humano,
relacionando-se do mesmo modo e com a mesma intensidade, quer seja com
o efêmero ou com o permanente, transitando entre os extremos da realidade
humana e permitindo um contato mais profundo com a verdade do homem.
Portanto, a linguagem, seja por sua centralidade no âmbito das ciências
humanas, seja por sua característica constituidora do sujeito, da história e da
cultura, assume aqui uma função-chave sobre os rumos de nossas
indagações.
Podemos dizer então que, ao decifrar palavras impressas, o leitor poderá dar
diferentes sentidos ao conjunto de palavras utilizadas pelo autor, ou seja, o que vai
definir o que estas palavras mobilizam no leitor será, de alguma forma, a relação entre o
que foi lido e suas experiências anteriores.
Essa relação que ocorre entre o ver a escrita e decifrá-la, segundo Manguel
(1997), foi uma conclusão de al- Haytham, e mais tarde também de Lecours
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, de que ler
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Por volta de 1980, quando trabalhava no Brasil.
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