A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 35

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A discussão se insere nas temáticas típicas de Renan – bem como desta
instituição – a respeito da autenticidade de fontes e do uso da filologia para tal
determinação. Trata-se de resolver um problema iniciado nas atas de novembro de
1857 em torno do verdadeiro autor de uma
Histoire phénicienne
atribuído ao nome de
Sanchoniaton e transmitido por Eusébio (RENAN, 1857b, p. 285-288). Desse modo, o
debate se estabeleceu entre as possíveis analogias linguísticas em torno do nome de
“Sanchoniathon” que auxiliassem na comprovação de autoria.
Quanto ao caso da leitura de cartas, na ata da
Académie
referente à sessão de
30 de outubro de 1857 lê-se uma peculiaridade. O texto até se inicia com o típico “eu
digo que ele disse o que o outro disse”, mas sofre mudanças quando “percebe-se” que
o outro, o ausente, já voltou:
Sr. Renan pede a palavra para comunicar algumas passagens de
uma carta que o Sr. Ernest Desjardins lhe escreveu de Alaise
contendo novas observações. Ele solicita à Academia a permissão
para que o Sr. E. Desjardins, hoje de volta e presente na sessão, leia
ele mesmo uma parte de sua carta. Sr. E. Desjardins lê algumas das
passagens mais importantes (DESJARDINS, 1857. p. 266, tradução
nossa).
xiv
.
Seguindo com a leitura da folha de rosto, chega a hora daquelas frases que
agora se sabe, são títulos de artigos publicados em periódicos. Dentre estes, um pode
ser sublinhado: a
Revue des Deux Mondes
. Sabendo-se que a partir de 1845 ela se
tornaria a mais importante
revue
em vista da opinião da época, duas questões podem
ser articuladas (HARTOG, 2003c). Como entender a publicação de diversos artigos de
Renan nesta “revista” – o primeiro, em 1851, a respeito de Maomé? (RENAN, 1851. p.
1063-1101). Será que o fato de ser um importante centro de divulgação de livros
alemães a respeito do cristianismo auxiliaria nesta discussão? (DUFOUR, 2010). Por
este caminho emerge um dos problemas centrais da pesquisa: de que modo os
contatos de Renan com a literatura alemã contribuíram para o delineamento de sua
escrita da história? É este, aliás, um dos pontos que une os variados trabalhos a
respeito da vida e da obra de Renan, ou seja, a constante referência a escritores
alemães
xv
. Não obstante, se aceitar a análise de Agnès Bouvier e de Perrine Simon-
Nahum, o próprio livro do qual foi tirado “nossa” folha de rosto torna-se central na
abordagem do problema. Pois, segundo Bouvier, a publicação de
Études d’histoire
religieuse
teria marcado a entrada na França de concepções alemãs do mito aplicadas
à história dos textos sagrados (BOUVIER, 2010). Com Simon-Nahum, também tendo
como pressuposto essa leitura dos alemães, a obra de Renan seria fundamental na
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