que a reconheçamos em diferentes contextos, mesmo que deslocada, sofrendo
alterações.
A memória discursiva na produção do princípio semiológico
O conceito de memória discursiva
3
advindo de Courtine também é produtivo
nessa discussão. É através da memória discursiva que se dá o reconhecimento do valor
de uma imagem, daquilo que já foi visto antes e em outro lugar, evidenciando uma
familiaridade com o que estamos vendo com o que já vimos antes. Isso porque, assim
como nas palavras vemos no dito a presença do já-dito, também na imagem temos essa
relação e é aí que a memória funciona e nos ajuda a compreender e visualizar os já
ditos.
A esse respeito, podemos encontrar respaldo em Achard (1999) o qual revela
que para atribuir sentido a uma unidade é preciso reconhecer que funciona nela certas
repetições que estão tomadas por regularidades. De acordo com o autor, as diferentes
aparições das palavras, nos diferentes contextos, nos permitem checar essas
regularidades, isso pode ser estendido para a imagem. Há uma relação de vizinhança
entre as imagens que evidenciam certa repetição regulada por regularidades:
a regularização se apóia necessariamente sobre o reconhecimento do que é repetido.
Esse reconhecimento é da ordem do formal, e constitui um outro jogo de força, este
fundador. Não há, com efeito, nenhum meio empírico de se assegurar de que esse perfil
gráfico ou fônico corresponde efetivamente à repetição do mesmo significante. É
preciso admitir esse jogo de força simbólica que se exerce no reconhecimento do
mesmo e de sua repetição. Por outro lado, uma vez reconhecida essa repetição, é preciso
supor que existem procedimentos para estabelecer deslocamentos, comparação, relações
contextuais. É nessa colocação em série dos contextos, não na produção das superfícies
ou da frase tal como ela se dá, que vemos o exercício da regra. (ACHARD, 1999, p. 16)
3
O autor define memória discursiva como:
“O que entendemos pelo termo “memória discursiva” é
distinto de toda memorização psicológica do tipo daquela aos quais os psicolingüistas se dedicam
enquanto produção de medida cronométrica (...). A noção de memória discursiva concerne à existência
histórica do enunciado no interior de práticas discursivas regradas por aparelhos ideológicos, ela visa o
que Foucault destaca a propósito dos textos religiosos, jurídicos, literários, científicos, discursos que estão
na origem de um certo número de atos novos, e fala que as retomam, as transformam, são ditas,
permanecem ditas e restam ainda a dizer (COURTINE, 1981, p. 52 apud MILANEZ, 2006, p. 161)”