e se entrecruzam, advindos de diferentes práticas, mas é possível estabelecer entre eles
uma regularidade nos discursos que falam de um mesmo objeto. É certo que os
enunciados estão dispersos, mas é possível encontrar uma regularidade que os
individualiza. A isso Foucault (2004) chama de Formação Discursiva (doravante
denominada FD).
Para encontrar uma FD, é preciso observar e descrever o que certos enunciados
têm de singular. A esse respeito, Gregolin (2004) mostra que Foucault parte do
problema da descontinuidade do/no discurso e da singularidade dos enunciados, para
afirmar que as formações discursivas constituem grupos de enunciados que, mesmo
dispersos, possuem regularidades, correlações e transformações que os singularizam e
os definem:
No caso em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante
sistema de dispersão e, no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os
conceitos, as escolhas temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem,
correlações, posições e funcionamentos, transformações), diremos, por convenção, que
se trata de uma formação discursiva (FOUCAULT, 2004, p. 43).
Os enunciados de uma FD sempre se avizinham a outros, as FDs se cruzam,
havendo uma heterogeneidade inerente a elas. Além disso, uma FD não está completa,
ela sempre é lacunar e pode fazer aparecer novas possibilidades de discurso. Esses
novos conteúdos que uma FD pode fazer aparecer não são conteúdos silenciosos,
implícitos, trata-se de uma modificação no princípio de exclusão. Foucault (2004)
assevera que um feixe complexo de relações funciona como regra para a formação da
FD, tal feixe complexo
prescreve o que deve ser correlacionado em uma prática discursiva, para que esta se
refira a tal ou tal objeto, para que empregue tal ou tal enunciação, para que utilize tal ou
tais conceitos, para que organize tal ou tal estratégia. Definir em sua individualidade
singular um sistema de formação é, assim, caracterizar um discurso ou um grupo de
enunciados pela regularidade de uma prática (FOUCAULT, 2004, p. 82-83).
Além disso, o autor ensina que a FD é um conjunto de regras para uma prática
discursiva; ela não é indiferente ao tempo, pois a FD “Não reúne tudo o que pode