As contribuições de Courtine, as quais provocaram mudanças no modo em que a
AD até então tinha trabalhado, estão ligadas aos postulados do filósofo francês Michel
Foucault. Ao ler os conceitos desse autor, Courtine procura não simplesmente transpor
o que disse o filósofo francês, mas trabalhá-los no interior da AD. A esse respeito,
Gregolin (2008) nos ensina que o modo de fazer AD inicialmente, quando o projeto foi
pensado por Pêcheux e seu grupo, era tratar prioritariamente do discurso político. Com
os trabalhos de Courtine e com a aproximação do grupo com as teses de Foucault, o
fazer a AD sofre mudanças; uma dessas mudanças pôde ser sentida no tocante à
preocupação de se analisar a mídia e as imagens que ela instaurava, sobretudo no campo
político. É chegada a hora de analisar diversas materialidades, não só linguísticas como
vinha se fazendo até então, já que a AD sempre focalizou os textos escritos. Segundo
Gregolin: “Era chegado o tempo de incorporar às análises a ‘língua de vento’ da mídia,
o discurso ordinário, as novas materialidades do mundo ‘pós-moderno’ que se
concretizavam no discurso.” (GREGOLIN, 2008, p. 27).
Tais mudanças ocorreram, sobretudo, no momento em que Courtine incorporou
a noção de enunciado de Foucault na AD e instaurou o conceito de memória discursiva,
deslocando o que disse Foucault sobre o que ele chamou de domínio associado. Nesse
sentido, “analisar discursos é, portanto, perseguir esses jogos enunciativos que são
possibilitados por uma característica fundamental do enunciado: o fato de que ele
tem
sempre margens povoadas de outros enunciados
(FOUCAULT, 1986, p. 112)”
(GREGOLIN, 2008, p. 25). Com isso, viu-se que era preciso conceber a imagem
enquanto um enunciado que se insere em uma série de formulações e com as quais ele
coexiste. Assim, esse enunciado participa de uma trama complexa que se insere em um
domínio associado. É preciso seguir essa trama que os enunciados são capazes de
construir e deslocar.
Courtine desenvolve um estudo o qual denominou de Semiologia Histórica. Ele
objetiva, com esse projeto, compreender as transformações nas materialidades dos
discursos, analisando outras materialidades, não só a verbal, na longa duração histórica.
A esse respeito, Gregolin propala que o referido autor
modificou o modo de olhar para o objeto clássico da AD: analisando as transformações
do discurso político, operadas pelos sistemas áudio-visuais, Courtine (2003; 2006a) abre
caminhos para o estudo das materialidades não-verbais que constituem a historicidade
dos discursos. Trata-se, a partir de então, de elaborar as bases de uma semiologia