Para compreender um pouco sobre isso, buscamos respaldo em Courtine (
apud
Milanez, 2006)
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, onde encontramos algumas considerações importantes sobre o assunto.
Para Courtine (
apud
Milanez, 2006), o conceito de memória discursiva que foi aplicado
ao discurso, em que não há discurso que não faça referência a uma tal memória, pode
ser estendido para a imagem:
Toda imagem se inscreve em uma cultura visual e essa cultura visual supõe a existência
para o indivíduo de uma memória visual, de uma memória das imagens. Toda imagem
tem um eco. Essa memória das imagens se chama a história das imagens vistas, mas
isso poderia ser também a memória das imagens sugeridas pela percepção exterior de
uma imagem. (COURTINE
apud
MILANEZ, 2006, p. 168)
Aqui o sujeito é colocado como também um suporte da imagem, quando o autor fala de
imagens vistas ou sugeridas pelo sujeito pela sua percepção exterior. Para o autor, ao
nos depararmos com o imagético, temos elementos semiológicos que nos remetem a
uma imagem longínqua do que foi dado. Isto quer dizer que a imagem possui signos que
nos faz remeter ao passado, a algo que já passou e que por meio desse signo, é passível
de ser recuperado; desse modo,
Para o historiador do corpo, as perguntas que devemos nos colocar mediante um
corpora
desse tipo são: quais
mise en scène
elas realizam? Qual estrutura elas mostram?
Quais são os signos que se podem recuperar numa imagem dada? Courtine nos remete,
portanto, a um
domínio de atualidade
, isto é, um conjunto de representação discursiva e
icônica, em relação com alguma coisa que atravesse a imagem, ou seja, uma conjuntura
histórica dada, um
domínio de memória
. (COURTINE apud MILANEZ, 2006, p. 170)
Na análise que propomos a seguir, buscaremos observar essas relações sugeridas
por Courtine.
As regularidades na materialidade imagética e a ordem do olhar: um gesto que se
repete
As questões trazidas nos fazem pensar em um corpus que estamos trabalhando a
algum tempo, o qual diz respeito à constituição de uma nova identidade masculina na
mídia. Ao trabalhar com o conceito de semiologia histórica, ponderamos que ele pode
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Essas considerações de Courtine fazem parte de anotações e entrevistas realizadas por Milanez em sua
passagem pela França e seu contato com o estudioso a partir da participação dele em seminários na
França e de orientações em 2004 e 2005. Vide artigo em Milanez (2006).