Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 851

emancipatório da leitura, aspecto extremamente interessante à pedagogia das últimas
décadas.
É com essa base que o presente artigo pretende refletir sobre a recepção
de um clássico da literatura brasileira para a juventude atual dentro do contexto escolar,
procurando desenvolver uma análise incitada por uma experiência em sala de aula com
a leitura de
Memórias de um Sargento de Milícias
(ALMEIDA, 1997)
2
.
Há alguns anos, havia solicitado aos alunos de uma 7ª série do Ensino
Fundamental de uma escola particular a leitura do romance de Manuel Antônio de
Almeida. Uma semana após terem iniciado a leitura, resolvi abrir um espaço na aula
para conversarmos sobre o livro, na intenção de colher as primeiras impressões.
Chamou-me a atenção a pergunta de um aluno sobre a época em que se passava a
história. Outro aproveitou para querer saber quando exatamente havia rei em nosso país
e por que residia no Rio de Janeiro.
Relendo com os alunos a frase de abertura do romance (“Era no tempo do
rei.”), os alunos passaram a me expor curiosas impressões. Quando perguntados, por
exemplo, sobre o que esperavam de uma narrativa que assim se iniciava, alguns alunos
disseram parecer um conto de fadas. Perguntei então o que imaginavam a respeito desse
“tempo do rei”. Citaram elementos comuns a essas narrativas, como príncipes,
princesas, castelos, cavaleiros, vilarejos, enfim, a imagem projetada naquela introdução
reproduzia uma experiência com reinados medievais descritos nas narrativas infantis (e
tendo certamente também contribuído para isso o cinema e os desenhos animados).
Essas questões me fizeram querer analisar a maneira como o tempo e o
espaço estavam caracterizados, principalmente no primeiro capítulo do livro, sob a ótica
da Estética da Recepção, e o efeito dessa caracterização sobre o horizonte de
expectativas dos jovens leitores.
A premissa básica é a tensão observada entre um provável repertório
estrito dos jovens leitores e a indeterminação espaço-temporal de uma narrativa que, se
de um lado faz referência a um dado período histórico do Brasil, de outro é construída
por um narrador que, tendendo ao pitoresco, não se compromete em dar informações
precisas. A experiência de leitura dessa obra por um jovem de nossos tempos não podia
ser menos peculiar.
2
A obra foi publicada em folhetim, no
Correio Mercantil
, em 1852.
1...,841,842,843,844,845,846,847,848,849,850 852,853,854,855,856,857,858,859,860,861,...1290
Powered by FlippingBook