conceitos mais abstratos como
leitor implícito
(W. Iser) ou
leitor modelo
(Umberto Eco)
–, a análise da recepção de uma obra deve buscar conhecer quais são os códigos e
experiências acumuladas pelas outras leituras e vivências sociais desse leitor. Nesse
sentido, saberemos em que medida uma dada obra é capaz de corresponder ou de
romper com as expectativas de seu público.
Aquilo que era a base do conceito de “estranhamento” para os formalistas
(“oposição entre a linguagem poética e a linguagem prática”), é apenas um dos eixos do
método recepcional. Indo além, procura resgatar o conhecimento prévio do leitor,
entendido então como seu “sistema de referências” estéticas e ideológicas, bem como
sua posição social e sua participação em uma comunidade historicamente definível.
Contudo, Jauss também se afasta da ideia de estudar o leitor real,
individualizado, pois entende que a recepção não é um fato exterior ao texto, mas
inscrito na sua estrutura formal, na sua linguagem e na sua abordagem temática.
Retomando o conceito de
compreensão
, parte do pressuposto de que uma obra é uma
resposta a um conjunto de perguntas do público a que se destina. Dessa forma, é
possível rastrear pelo texto os indícios dessas perguntas, isto é, promover a
interpretação
que nos leva ao horizonte de expectativas dos leitores de sua época.
Zilberman (1982, p. 103) arrola as seguintes injunções constitutivas do
horizonte de expectativas através do qual autor e leitor concebem e interpretam a obra –
a última delas foi acrescentada por Aguiar e Bordini (1993, p. 83):
-
social
, pois o indivíduo ocupa uma posição na hierarquia da sociedade;
-
intelectual
, porque ele detém uma visão de mundo compatível, na maior parte das
vezes, com seu lugar no espectro social, mas que atinge após completar o ciclo de sua
educação formal;
-
ideológica
, correspondente aos valores circulantes no meio, de que se imbui e dos
quais não se consegue fugir;
-
lingüística
, pois emprega um certo padrão expressivo, mais ou menos coincidente com
a norma padrão privilegiada, o que decorre tanto da sua educação, como do espaço
social em que transita;
-
literária
, proveniente das leituras que fez, dos seus gostos e do que o meio em que
convive lhe oferece, incluindo a escola;
-
afetiva
, que provoca adesão ou rejeição dos demais.
Nosso caso de leitura
Antonio Candido dá início ao seu famoso ensaio “Dialética da
malandragem” questionando o valor de realismo de
Memórias de um Sargento de
Milícias
, atribuído por alguns críticos como José Veríssimo. Em seguida se vale de