Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 856

próprios vazios funcionam como instâncias de controle, já que são os esquemas textuais
que provocam “uma multiplicidade de representações do leitor, através da qual a
assimetria começa a dar lugar ao campo comum de uma situação” (ISER, 1979, p. 89)
comunicacional. Na explicação de Iser (1979),
O texto é um sistema de tais combinações e assim deve haver também um lugar dentro
do sistema para aquele a quem cabe realizar a combinação. Este lugar é dado pelos
vazios (
Leerstellen
) no texto, que assim se oferecem para a ocupação do leitor. Como
eles não podem ser preenchidos pelo próprio sistema, só o podem ser por meio doutro
sistema. (...) os vazios regulam a atividade de representação (
Vorstellungtätigkeit
) do
leitor, que agora segue as condições postas pelo texto. (p. 91)
Mais tarde, o teórico chama a atenção para decisões seletivas por parte do
leitor, segundo padrões da realidade externa, partindo do princípio de que “O emprego
da realidade simulada como signo não se esgota na vontade de puramente descrever a
realidade conhecida” (ISER, 1979, p. 104). Essa impossibilidade de representação
mimética (para ele, inexorável à comunicação tanto literária como cotidiana) dá lugar à
ideia da concretização do sentido por parte do leitor. Porém, o repertório do leitor
também nunca será simétrico em relação à ficção, contribuindo para a manutenção dos
vazios constitutivos. “Esta falta de correspondência se manifesta nos graus de
indeterminação, que estão menos no texto com tal, do que na relação estabelecida entre
o texto e o leitor” (CECCANTINI, 1993, p. 105).
Assim como Jauss, Iser concorda que é impossível precisar a
concretização realizada pelo leitor real, por isso postula o conceito de leitor implícito.
Jauss volta-se à “recepção e o efeito de uma obra no sistema objetivo de expectativas”,
isso implica em reforçar a ideia de que “a obra predetermina a recepção, oferecendo
orientações a seu destinatário” (ZILBERMAN, 1989, p. 34). Assim como para Iser “o
leitor implícito personifica o conjunto das
pré-orientações
que um texto de ficção
oferece, como condição de recepção, aos seus possíveis leitores” (1979, p. 73). Desse
modo é válido analisar as estruturas textuais que desencadeiam o processo de ideação
do leitor.
Horizonte de expectativas
Dessa breve explanação teórica, partimos para um importante conceito da
Estética da Recepção: o
horizonte de expectativas
do leitor. Diante do fato de que Jauss
considera o leitor um indivíduo historicamente constituído – o que nos afasta de
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