Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei
Deus
de uma grande
delicadeza.
Pelo exposto, observa-se que a versatilidade do cronista é uma de suas
características definidoras do gênero ao qual se dedica. Diante da dificuldade de se
enquadrar produção tão vasta em conceitos e categorizações, Candido (1992) opta por
reconhecer algumas linhas de força quanto à composição das crônicas brasileiras. Para o
autor, há crônicas que se assemelham: 1)
ao diálogo – “a crônica diz as coisas mais
sérias e mais empenhadas por meio do ziguezague de uma aparente conversa fiada”
(1992, p.20). Trata-se de uma conversa que propõe ao leitor uma reflexão sobre a
realidade imediata que, entretanto, pode se voltar ao passado histórico de ambos, leitor e
narrador/autor; 2)
ao conto
–
predomina a narrativa com uma estrutura ficcional. Neste
caso, destacam-se, na narrativa, fatos, acontecimentos e ações. O escritor distancia-se do
fato para narrá-lo, assumindo a posição de um contador de histórias, de um historiador.
A ação ou o acontecimento fica no plano do “não-eu”, no entanto, é perpassado pelo
lirismo no plano do “eu”, legando à crônica o papel de poetizar o cotidiano; 3)
à poesia
–
predominando o lirismo, a construção poética. O “eu” e suas impressões, emoções,
experiências subjetivas assumem o plano central do texto; 4)
à anedota
–
aproximam-se
de piadas desdobradas. Essa produção, apesar de usar a matéria cotidiana, o jogo de
palavras, os silêncios instaurados e a ironia, traz ao leitor uma reflexão sobre suas
relações em sociedade; 5) à
biografia
–
há certo lirismo no relato, mas o texto centra-se
em uma experiência de vida colocada em foco como objeto ao redor do qual se constrói
todo o texto.
De acordo com Candido (1992, p.22), a crônica brasileira, quando possui um
trabalho estético, “[...] participa de uma língua geral lírica, irônica, casual, ora precisa e
ora vaga, amparada por um diálogo rápido e certeiro, ou por uma espécie de monólogo
comunicativo”. Mesmo próxima da poesia, do conto, da biografia, da anedota e do
diálogo, o gênero tem como uma de suas características mais identificadas a brevidade,
a qual, na maior parte das vezes, atendendo ao espaço destinado pelos veículos de
comunicação, também se apresenta como elemento identitário de seu público leitor –
apressado, que geralmente lê em pequenos intervalos, no transporte, entre um afazer e
outro. Sá afirma que à “[...] pressa de escrever, junta-se a de viver” (2002, p.10), pois as