de compreensão silenciosa; ele é a ponte entre aquele que fala e o seu destinatário. A partir da
enunciação, um se define em relação ao outro e à comunidade social mais ampla.
[...] Cada um dos elementos significativos isoláveis de uma enunciação e a enunciação toda são
transferidos nas nossas mentes para um outro contexto, ativo e responsivo. A compreensão é uma
forma de
diálogo
; ela está para a enunciação assim como uma réplica está para outra no diálogo.
Compreender é opor à palavra do locutor uma
contrapalavra
. [...] É por isso que não temsentido dizer
que a significação pertence a uma palavra enquanto tal. Na verdade, a significação pertence a uma
palavra enquanto traço de união entre os interlocutores, isto é, ela só se realiza no processo de
compreensão ativa e responsiva. A significação não está na palavra nem na alma do falante, assim
como também não está na alma do interlocutor. Ela é o
efeito da interação do locutor e do receptor
produzido através domaterial de umdeterminado complexo sonoro
. Écomo uma faísca elétrica que só
se produz quando há contato dos dois pólos opostos. [...]. Só a corrente da comunicação verbal fornece
à palavra a luz de sua significação. (BAKHTIN, 1995, p.132, grifos do autor)
Dessa maneira, o enunciado apresenta uma característica essencial: a relação
necessariamente ativa entre todos os que participam da comunicação discursiva. Sob esta
perspectiva, o falante não ocupa uma posição superior isolada e o chamado ‘ouvinte’ deixa de ser
uma função passiva, de mero receptáculo da fala que, necessariamente, tem de se dirigir a alguém.
Isso posto, a prevalência do chamado “emissor” sobre o “receptor” é uma realidade que não se
configura do ponto de vista da interação dialógica. A recíproca também não é verdadeira, ou seja,
não há uma ‘ditadura do receptor’, como se, ao contrário da visão anterior, os sentidos da mensagem
fossem fixados pelo destinatário. Tanto uma quanto outra posição são intrinsecamente ativas, ainda
que não haja troca ‘individual’ de fala. Falante e ouvinte são posições enunciativas que se alteram
concomitantemente; na fala daquele já estão presentes as presumidas respostas deste. Além disso, a
compreensão ativa se manifesta automaticamente a cada enunciado, ainda que uma resposta não
venha a ser expressa concretamente.
Toda compreensão da fala viva, do enunciado vivo, é de natureza ativamente responsiva (embora os
graus desse ativismo sejam bastante variados); toda compreensão é prenhe de resposta, e nessa ou
naquela forma a gera obrigatoriamente: o ouvinte se torna falante. A compreensão passiva do
significado do discurso ouvido é apenas ummomento abstrato da compreensão ativamente responsiva
real e plena, que se atualiza na subseqüente resposta emvoz real alta (BAKHTIN, 2003, p. 271).
A noção de que o destinatário só passa a ocupar uma posição ativa caso se dirija
concretamente ao falante é um equívoco. Já no processo de mera ‘audição’, ele está buscando
apreender o significado das palavras no enunciado e também os sentidos que elas adquirem umas
em relação às outras. Faz isso concomitantemente com a assunção de uma posição responsiva ativa,
pois embora possa ouvir a fala em silêncio, está concordando com ela ou a está refutando; está
articulando a expressão ainda com outras informações que já tenha sobre o mesmo objeto, está
preparando uma ‘resposta’.
Sob essa perspectiva, portanto, pode-se dizer que todos os sujeitos participantes de qualquer