funcionamento da linguageme dos discursos.
Considerações finais
Tendo em vista a discussão travada até aqui, pode-se afirmar que, a uma interatividade
aparente, manifesta e ‘visível’, há outra que a ela subjaz. Verifica-se que a uma interatividade de
superfície — isto é, a viabilizada pelo acesso aos mecanismos que permitem ao destinatário entrar
em contato direto com o ‘emissor’ ou ‘fonte’ e atuar na construção da mensagem veiculada —
corresponde outra, a interatividade discursiva, que lhe é subjacente e constitutiva. O fato de o ‘outro’
sempre se colocar em posição ativa em relação ao seu interlocutor e já atuar no enunciado, mesmo
que não disponha ou não tenha acesso ao aparato, nem haja um contato direto e efetivo entre os
interlocutores, é umamostra pontual dessa dinâmica.
A compreensão ativa é condição de existência do enunciado concreto e se estabelece na
relação dialógica entre os sujeitos. A resposta, desde sempre, ‘já está lá’. Ela prescinde, portanto, de
feedback
, bilateralidade e outras manifestações. O enunciado é sempre marcado por uma posição
ativa e o diálogo é um processo de interação entre sujeitos sociais. Anoção, portanto, de que o rádio
se efetiva numa dinâmica de ‘um para muitos’, numa via de mão-única (daí a necessidade,
reivindicada por vários, de o meio tornar-se ‘via de mão dupla’), perde o sentido se compreendida à
luz do processo dialógico inerente à comunicação discursiva. Ainda que o som transmitido saia do
‘um’ que irradia e chegue aos ‘muitos’, ‘anônimos’, ‘incomensuráveis’ que o recepcionam
tecnicamente, esses ‘muitos’ já estão lá na conformação do enunciado transmitido. O diálogo entre
eles se efetiva discursivamente, sempre. Interatividade, portanto, é constitutiva do discurso
radiofônico. Ela não é a ‘oportunidade’ para que o ouvinte saia de seu papel ‘passivo’;
discursivamente, isto não se configura.
A interação entre os sujeitos é condição de existência da comunicação. Uma das maneiras
de esta relação adquirir visibilidade são as situações interativas, nas suas mais diversas manifestações
na esfera midiática. O fundamento da interatividade, porém, está na relação interpessoal, e não
apenas na relação homem-máquina ou homem-homem intermediada pela máquina, como o
fenômeno da interatividade temsidomaciçamente enfocado na atualidade.
Aidéia de interatividade que norteia este estudo é a de relação reciprocamente ativa entre os
participantes da comunicação discursiva, em que não há divisão estanque e distanciada entre ‘pólo
emissor’ e ‘pólo receptor’. Ao contrário, a comunicação só se efetiva a partir de trocas enunciativas
simultâneas e da mútua influência, ou seja, da permanente atitude responsiva ativa entre os sujeitos