Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 64

analogia da escrita verbal com a musical considerando que a música possui
historicidade, representação em formações discursivas diversas (com características
específicas), e apresenta-se sob diferentes gêneros além de permitir observar
regularidades dentro de sistemas de dispersão assim como os textos verbais.
A análise estrutural das partituras, apoiadas por documentos históricos que
representam o discurso de uma determinada formação discursiva, doravante (FD), nos
permite levantar a hipótese de que assim como no texto verbal há a presença daquilo
que é possível ser dito e a presença do não dito
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, nos textos musicais também há. Com a
finalidade de refletir sobre tais possibilidades, farei uma aproximação da teoria aplicada
ao estudo dos textos verbais para verificação da possibilidade de sua aplicação para o
estudo dos textos musicais. Partirei do conceito de FD exposto por Foucault:
“No caso em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante
sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os
conceitos, as escolhas temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem,
correlações, posições e funcionamentos, transformações), diremos, por convenção, que
se trata de uma
formação discursiva.”
(FOUCAULT, p.43, 2008)
Tal conceito será utilizado a fim de observar as regularidades, o sistema de
dispersão e os tipos de enunciados musicais em três partituras que representam três FDs
distintas. Inicialmente, busco a teoria referente à leitura de textos verbais com a
finalidade de verificar a possibilidade de sua aplicação para leitura musical, em seguida,
além de recorrer à história recorro à própria música instrumental como argumentos que
possam dar suporte à possibilidade de se falar em discurso musical, historicamente
constituído, inserido em formações discursivas específicas enquanto representações de
enunciados filiados às respectivas formações.
A leitura de um trecho do capítulo “Uma prática semiótica” do livro de
Maingueneau
Gêneses dos discursos
, fez me perceber a necessidade de reflexão de que
“Limitar o universo discursivo unicamente aos objetos linguísticos constitui sem dúvida
alguma um meio de precaver-se contra os riscos inerentes a qualquer tentativa
“intersemiótica”, mas apresenta o inconveniente de nos deixar muito aquém daquilo que
todo mundo sempre soube, a saber, que os diversos suportes intersemióticos não são
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“Não dito” significa não manifestado em superfície, a nível de expressão: mas justamente este não dito
tem de ser atualizado a nível de atualização de conteúdo. (...)requer movimentos cooperativos,
conscientes e ativos da parte do leitor. (Eco, 1986, p.36)
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