Indicadores demográficos têm revelado a crescente diversidade de configurações
de famílias e, conseqüentemente, demonstrado a pluralização das relações familiares.
Porém tais dados, tomados isoladamente, não dão suporte para o entendimento de como
estão se constituindo os lugares sociais de cada membro da família (HENNINGEN;
GUARESCHI, 2002).
A família se torna cada vez mais permeável às pressões do mundo ao seu redor,
sofrendo as transformações, mas também colaborando para que outras mudanças
aconteçam no âmbito social. Algumas transformações ocorridas nas culturas da vida
cotidiana de pessoas comuns contribuíram para uma (re)estruturação familiar. As
formas de viver e as visões estão se diversificando tanto que estão permitindo aos
sujeitos reorganizar sua própria vida com margens inéditas de abertura (HOPENHAYN,
2001). Ao longo da história, é possível perceber o
declínio do trabalho na indústria e o
crescimento de outros tipos de ocupação
, de acordo com diversos estilos de vida, bem
como o
declínio das perspectivas de carreiras e dos empregos vitalícios
dando lugar a
uma “flexibilidade no emprego”; as
mudanças no tamanho das famílias
, nos padrões de
diferenças de geração, de responsabilidade e autoridade dos pais; o
aumento de famílias
uniparentais
e a
diversificação de arranjos familiares
; a
redução das tradicionais “idas
à igreja”
e da autoridade de padrões morais e sociais
(HALL, 1997). As novas
relações postas em movimento por este processo, por estas modificações, tornam menos
nítidos muitos dos padrões e das tradições do passado, incluindo a família.
Devemos pensar as identidades, as “novas identidades”, os novos arranjos
familiares, construídos no interior da representação, por meio da cultura, entendendo a
cultura como um campo de luta em torno da significação, a cultura atravessada por
relações de poder que vão definir o campo cultural (SILVA, 2000). As identidades são
resultado de um processo de identificação que permite nos posicionarmos no interior
das definições que os discursos culturais fornecem, que nos subjetivemos dentro e a
partir deste discurso.
Pensar a família como uma realidade que se constrói por seu próprio discurso,
internalizado pelos sujeitos, é uma maneira de buscar um entendimento acerca dessa
instituição que não antecipe à sua realidade de família, mas que nos permita pensar
como a família constrói sua noção de si, como se apresenta e é representada. É evidente