As representações
Numa abordagem construcionista
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sobre as abordagens teóricas em termos de
representação, o significado é construído por meio da linguagem, com o uso de sistemas
representacionais, tais como conceitos e signos. Representação, numa análise cultural,
“refere-se às formas textuais e visuais através das quais se descrevem os diferentes
grupos culturais e suas características” (SILVA, 2000, p.97). De maneira geral, pode-se
definir representação como o uso da linguagem para dizer algo significante sobre
alguma coisa. Assim, quando se fala em família, nos membros dessa família, tratamos
de modelos representacionais, que geram a noção de identidade, de um posicionamento,
de um território do qual é possível falar, se identificar e se diferenciar. Tais modelos são
construídos dentro de um discurso, produzidos em contextos históricos e institucionais
específicos, inseridos em práticas e formações discursivas específicas (SIMÕES
JÚNIOR, 2005).
A família pode ser tratada como espaço de relações identitárias e de
identificação afetiva e moral (BERGER; LICKMAN, 1983
apud
SETTON, 2002). É
possível ainda observar as relações de autoridade, as hierarquias internas, de controle.
Na série, tais relações são muito evidentes. No 3º episódio, depois de demonstrar
curiosidade sobre a ocupação de seu pai, Kevin vai conhecer o ambiente de trabalho de
Jack, o “Escritório do meu pai” (nome do episódio). Ao observar toda a movimentação
de Jack, gerente de distribuição de uma empresa, Kevin comenta admirado:
“Não fazia
idéia sobre o que meu pai falava, mas de repente me apaixonei pelo ritmo de tudo! O
modo como apertava os botões, mexia nos papéis e dava ordens. Ele tinha poder,
autoridade, como em casa...”.
A relação de Jack com os filhos, especialmente com Kevin, era bastante
amistosa. No entanto, os filhos sabiam quem era a autoridade da casa e o respeitavam, o
temiam. Porém esta condição nunca se apresentou fixa e estática. A figura de autoridade
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Predominantemente, existem três abordagens teóricas sobre representação: i) abordagem refletiva ou
reflexiva, em que a linguagem apenas reflete o que existe no mundo, como um espelho, sem interferir
no processo de representação; ii) abordagem intencional, ou seja, a linguagem expressa a ideologia do
sujeito falante, aquilo que ele quer dizer, os traços de sua personalidade; e iii) abordagem
construcionista, em que “os atores sociais usam os sistemas conceituais de sua cultura e outros sistemas
lingüísticos e representacionais para construir significado, para tornar o mundo significativo e comunicar
de forma coerente este mundo para outros” (HALL, 2000, p. 25
apud
SIMÕES JUNIOR, 2005).