Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 72

predominando notas vizinhas apresentando intervalos apenas esporadicamente. O ritmo
é ditado pela palavra, por ser apenas suporte para cantar os textos da liturgia católica
Romana, não apresenta nem notação específica, ou seja, “o ritmo em prosa dos salmos e
orações” serve de acompanhamento. (Isaacs, A.; Martin,E., 1985, p.65). Como a função
social dessa modalidade músical é o ofício divino, isto é, ser utilizada pela igreja
serviços religiosos, deveria ser o mais simples possível para evitar distrações causadas
pela prolação de notas novas, pelos sofejos e canções seculares que vieram “intoxicar
mais que acalmar”o ouvido daqueles que tivessem em oração, como indicado pela Bula
Docta Sanctorum,
que o papa João XXII divulgou em 1323:
“Certos discípulos da nova escola, ocupando-se muito com a divisão dos tempora,
exibem sua prolação em notas novas para nós, preferindo inventar novos métodos
próprios a continuar cantando à maneira antiga. Portanto, a música do Ofício Divino é
perturbada pelas notas desses valores com solfejos, e às vezes enchem-na com partes
superiores constituídas de canções seculares.[...] As incessantes indas e vindas das
vozes, intoxicando mais que acalmando o ouvido[...]. A consequência de tudo isso é
que a devoção, verdadeiro objetivo de todo culto, é negligenciada, e a distração, que
devia ser evitada, aumenta.”(RAYNOR, 1981, 48)
Tal Bula foi escrita na tentativa de controlar as influências sofridas pela música
litúrgica em decorrência da presença de músicos não formados pela
Schola Cantorum
romana, mas originários do sul da França, sul da Espanha e Bélgica, que traziam
consigo conhecimento musical da música secular, ou seja, eles pertenciam a uma outra
formação discursiva (FD) que possuia diferentes possibilidade de enunciado. A sua
presença nesta FD influenciou a música sacra fazendo surgir nesta a possibilitade de
erupção de enunciados com formas diferentes daquelas regularmente produzidas. Digo
controlar, e não proibir, pelo fato de no mesmo documento o Papa permitir o uso
ocasional em dias festivos de algumas alterações desde que mantivessem intacta a
integridade do canto”.
“Entretanto, não é nosso desejo proibir o uso ocasional – sobretudo em dias festivos ou
em celebração solene da missa e do Ofício Divino – do uso de algumas consonâncias
[...] que exaltam a beleza da melodia.[...]mas de tal modo que mantenham intacta a
integridade do canto, e que nada na música prescrita seja alterado”. (RAYNOR, 1981,
49)
Fica claro, portanto, como a formação discursiva é determinante para a
enunciação musical. O controle sobre as possibilidades de enunciação demonstra que
determinados enunciados podem ser possibilitados ou a interditados dependendo da
formação discursiva.
A modalidade “Gregoriana” desenvolveu-se durante toda a Idade
1...,62,63,64,65,66,67,68,69,70,71 73,74,75,76,77,78,79,80,81,82,...1290
Powered by FlippingBook