perceptível que, diferentemente do canto gregoriano, as peças de Bach são escritas em
pauta com cinco linhas, o que possibilita uma maior amplitude sonora. Este compositor
alemão do século XVI utiliza melodias bem mais ricas apresentando intervalos maiores
entre as notas e com diferentes linhas melódicas de várias vozes - a polifonia proibida
pela Bula do papa João XXII. A própria notação gráfica nos mostra a maior
complexidade com maior quantidade de notas – retratando maior riqueza sonora; uma
notação rítmica específica - divisão em compassos, separados pelas barras que
abrangem as duas pautas e separação das notas compondo diversas figuras musicais
com valores de tempo diferentes. Ainda cabe acrescentar que todas estas variações
mencionadas acontecem de forma distinta em cada uma das duas pautas. Cada uma
delas é executada por uma das mãos do tecladista e cada mão tem a possibilidade de
executar até duas vozes, ou seja, cada mão executa duas linhas melódicas
“conversando” entre si simultaneamente. A polifonia tão combatida na música litúrgica
Romana no século XII passa a ser executada por apenas um músico com autoria
11
assumida e valorizada. A complexidade rítmica exige uma notação mais complexa, com
divisão de compassos e subdivisões em figuras variadas, cada uma possuindo seu
próprio valor de tempo. É observável, portanto, que a produção de textos musicais
também está submetida ao controle das formações discursivas. Enquanto a igreja
Romana no início da idade média exigia simplicidade e monofonia, no século XVI o
compositor que se tornou referência foi aquele capaz de unificar várias vozes em apenas
um instrumento e teve suas peças executadas na igreja como as suas mais de 200
cantatas, entre outras peças.
Mesmo sendo bem mais complexas do que o canto gregoriano, as partituras de
Bach ainda eram relativamente simples quando comparadas às de Beethoven. Apesar de
apresentarem maior exigencia técnica, riqueza melódica e até mesmo polifonia, como
na fuga com
várias vozes
e contraponto, ainda não há a presença de acordes, fraseados
ou outras notações que direcionam a leitura interpretativa.
11
Autoria mereceria todo um capítulo para a discussão, entretanto por uma questão de delimitação não
será aqui abordado.