Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 84

número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e
perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e
temível materialidade.
Admitindo o discurso como heterogêneo, selecionamos alguns enunciados os
quais materializam o discurso sobre a formação do professor. Alguns enunciados
valorizam esse sujeito do espaço escolar, pois é considerado o pilar do processo
educacional. Outros enunciados permitem verificar um discurso sobre a má formação do
professor, desvalorizando completamente esse profissional, sendo mesmo possível
apagá-lo do processo educacional e substituí-lo pela tecnologia.
Portanto, podemos notar a prevalência de duas FDs: uma apresentando um viés
mais religioso, admitindo o professor como indispensável, assemelhando-o a um deus, a
um profeta, ao messias; e outra mais vinculada aos aspectos econômicos e avanços
tecnológicos. Devemos relembrar que o discurso religioso está totalmente vinculado ao
discurso pedagógico brasileiro, a escola foi se instituindo no Brasil juntamente a ordem
dos jesuítas, com a consagração da igreja católica no Novo Mundo e adiante com as
igrejas protestantes e evangélicas, as quais fundaram as suas próprias instituições
educacionais. Nessa formação discursiva de uma moral religiosa o professor é o mestre,
o dono da sabedoria.
No entanto, essa mesma FD nos possibilita inferir um discurso econômico. O
professor não é indispensável apenas por ser o detentor do conhecimento, mas, como
afirma Coracini (2007), no mundo neoliberal o que vale é o lucro, e, na escola, o
professor é o intermediário entre a escola e o aluno, dependendo dele o cumprimento
das promessas vendidas. Assim, temos também a prevalência de uma FD a qual
materializa um viés mais econômico, caracterizado pelo descartável, pelo substituível e
pelo investimento em tecnologia. Portanto, se o professor não garante as promessas
divulgadas pela escola, ele é substituível, e substituível não apenas por um outro sujeito-
professor, mas pela própria tecnologia.
Aliás, essa intensa defesa do uso da tecnologia em sala de aula pautou a
(FORMAÇÃO DO)
PROFESSOR
BRASILEIRO
FD CRISTÃ
FD ECONÔMICA
Professor como bem necessário.
É indispensável.
Semelhante a um mestre, um messias, um
profeta ou um deus.
Professor como substituível.
O professor, como um bem de consumo, é
descartável.
Pode ser substituído pela tecnologia.
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