Max, no banheiro com a porta entreaberta, pensando na cabeça da matéria, escuta
a conversa entre Sam e a diretora. Daí o primeiro pecado foi cometido e rege o
tratamento dado a narrativa cinematográfica, sem pesquisa, sem investigação, sem
apurar e confirmar os fatos. O que ele viu foi à possibilidade de contatar a emissora e
entrar ao vivo, como a própria fonte do fato, mesmo que para isso fizesse valer a
superficialidade do voyeur. Por outro lado, a emissora KXBD não viu importância a um
fato paralelo a esse: rombo no Banco Federal, por ser partidária e pela falta da
possibilidade de virar espetáculo.
Há dois anos, em um acidente aéreo com morte, Max estava no local, foi
entrevistado por Kevin Hollander e não foi ético, debochou e não respeitou o público
receptor ao fazer comentários inconvenientes (em resposta a perguntas óbvias e nada
jornalísticas) sobre a tragédia. Naquele momento, não importava se havia corpos,
mutilação, o importante é que eles estavam presentes no acontecimento. Max foi
mandado para o interior “ficou na geladeira”e tornou-se free lancer.
O outro pecado, mais negro que o primeiro, é a vaidade. Max aproveita a
ingenuidade, a simplicidade de Sam e assume o controle da situação, travando um jogo
de alteridade: ora é o mediador, ora é o apresentador; ora entrevista, ora é entrevistado.
Assim, usa os argumentos a seu favor, a favor da audiência. É o “vir na mídia”. Max
virou celebridade, reconquistando a credibilidade perdida e conseguiu o tão sonhado
“furo” de reportagem. Para isso, é dissimulado, o discurso caminha no vai e vem do
espetáculo, do sensacionalismo, da história paralela a real, pois seu objetivo é persuadir,
manipular o discurso de Sam e seu entorno. Sam só queria duas coisas: fazer-se ouvir e
o emprego de volta. Mas seus desejos voltaram-se contra ele: tornou-se sequestrador e
exterminador. Os acidentes, dentro do fato maior, acabaram por incriminá-lo.
A vaidade de Max estava em alta. Para mantê-la, não poupou prosa nem músculo
para atingir seu objetivo: redigiu as matérias, ficou preso no museu por três dias,
praticamente sem dormir, de olho nas reações internas e externas ao Museu. Desse
modo, ele recuperaria status e a TV ganharia pontos de audiência.
Por individualismo e egoísmo, cometeu o segundo pecado e tornou-se o
manipulador do fole que assopra e atiça o sensacionalismo praticado através de
factóides e detalhes que iriam agradar a opinião pública e, consequentemente, a opinião
pública ficaria do lado da mídia e ele no topo dos melhores repórteres.