O sintagma “esfuracadora bisbilhotice” conduz o leitor à conclusão de que o
repórter para conseguir mais detalhes, torna-se um esfuracador, quer dizer, ele faz
buracos, furos, investiga com curiosidade a bisbilhotice, o mexerico, a intriga. Esse
sintagma é visual, uma vez que se pode imaginar o tamanho, a extensão, um espaço com
furos, a profundidade do sensacionalismo que o repórter deseja sustentar, além disso, é
pejorativo, pois o repórter não passa de um fofoqueiro, sustentado pelos detalhes e pela
própria história do fato.
Trata-se, também, de uma estratégia paradoxal, uma vez que a superficialidade
(roupa branca, móveis) não irá reconstruir, nem informar sobre a personalidade e sobre
a obra do escritor francês, autor de várias obras a respeito da história das religiões, e
muito irônica: fazer buracos no substantivo abstrato bisbilhotice.
Fradique termina o quarto parágrafo dizendo que a reportagem, hoje, vai atrás dos
jóqueis, dos assassinos, e estão deixando de lado aquilo ou aqueles que realmente
influem no destino da humanidade. É na superfície discursiva, através dos atos
ilocutivos que Fradique defende seu ponto de vista, demonstrado, através de exemplos,
com sintagmas e argumentos persuasivos, que a reportagem passa uma realidade
importante, através da superficialidade: nariz da Cleópatra, roupa branca, móveis, mas
atuam perlocutivamente.
Deste modo, os atos perlocutivos provocam efeitos e um deles pode levar o leitor
a concordar com o dizer epistolar, pois hoje é um dêitico de presentificação – operador
temporal que significa neste momento. Logo, hoje, torna-se atemporal, atual, pois
folheando o jornal ou ligando a televisão, a história se repete, apenas mudou de
endereço e de século. Até o não – verbal que deveria intensificar, completar, ilustrar o
verbal, às vezes, não passa de ironia, de deboche, de “indiscriminada publicidade”. E
esta, segundo Fradique, “concorre pouco para a documentação da história, e muito,
prodigiosamente, escandalosamente, para a propagação das vaidades!” Atualizando esse
contexto, basta lembrar de quanto os jornalistas correm atrás dos detalhes, da
superficialidade, da realeza inglesa.
A seleção lexical e a estratégia discursiva da superlativação, formada por
advérbios em – mente, animam a imagem mental evocada e, por vezes, inesperada. O
advérbio “prodigiosamente”, colocado em nível do prodígio, admirável, extraordinário,
idéia de algo que aumenta, junto com o advérbio “escandalosamente”, colocado em